"Da sensação de morte ao prazer de viver": Cannabis ajuda cantor Piettro a superar depressão e inspira novo trabalho artístico
Entre preconceitos, insônia e dores, artista encontrou na planta um caminho para a saúde e a criatividade
Publicada em 04/09/2025

Piettro, cantor e compositor, aposta nos cookies de cannabis como melhora na saúde mental e qualidade de vida
Usuário de cannabis há cerca de 15 anos, o cantor e compositor Piettro, 30 anos, carregava até 2020 a ideia de que a planta era apenas uma droga, sem finalidade terapêutica. “Conhecia somente o preconceito e a desinformação. As coisas ruins”, relembra.
Essa visão, somada ao peso de sua profissão, fazia com que se sentisse marginalizado. “É isso que ensinam pra gente”. A mudança veio no fim de 2024, com o acompanhamento médico e uma abordagem voltada à saúde pública. Desde então, o artista afirma ter experimentado melhorias significativas, sobretudo com o uso do óleo de cannabis. “Percebi que eu precisava da cannabis para viver, para sair de uma sensação de morte ao acordar para o prazer de viver a vida”.
As memórias de noites em claro e manhãs marcadas por falta de ar, dores no joelho e desânimo ainda estão vivas, porem, somente na memória. “Nunca tinha acordado e pensado ‘nossa, que dia lindo, amo viver’. É uma sensação muito recente”, confessa.
Novos ares, novos desafios

Mesmo antes de perceber, a maconha já influenciava sua trajetória artística, iniciada em 2010. “A planta me permite estar minimamente bem para fazer meu trabalho, pensar nas produções, tocar e entrar em estado de contemplação", relata.
A busca por autoconhecimento o levou também a experiências com ayahuasca, há cerca de cinco anos, e com cogumelos psilocibinos em 2024. Essas vivências ampliaram sua percepção das plantas como ferramentas medicinais e reforçaram sua visão sobre a cannabis.
Esse processo coincidiu com a mudança de Brasília, sua cidade natal, para São Paulo — período marcado por depressão e crises emocionais. Já consciente dos benefícios da planta para o sono e o humor, o cantor decidiu explorar novas formas de consumo além do fumo, até então sua única via de administração.
“Sou cantor, preciso do trato respiratório limpo. Fumar atrapalha a hidratação da laringe e das pregas vocais”, explica. A solução veio com alternativas: primeiro o óleo, depois as gummies de cannabis, até chegar aos cookies infusionados. “Foi amor à primeira mordida. Em dez minutos já sentia aquela brisa boa”, recorda.
Hoje, Piettro sonha em ter uma produção de cannabis própria. Embora ainda utilize óleos e alimentos infusionados de associações e empresas importadoras, ele se prepara para dar entrada em um habeas corpus preventivo que permita o cultivo pessoal. “Quero fazer tudo: da semente ao cookie”, projeta.
O consumo da cannabis infusionada, trouxe melhoras significativas para a saúde mental e, principalmente para a insônia, além de mais mais energia no dia a dia. “Minha vida está entrando num lugar de funcionalidade que há dois anos não tinha”, afirma.
No pessoal e no profissional

O aprendizado não ficou restrito a ele. Em 2025, ao lado da mãe, participou do evento PopCann, em São Paulo. Lá, descobriram que ela, diagnosticada com síndrome do intestino irritado, também poderia se beneficiar da planta. “Ela sempre foi combativa, cheia de energia. Agora está mais tranquila, com melhor sono e menos irritabilidade”, conta. O pai também aderiu recentemente, assim como outros familiares, amigos e até a funcionária da casa. “Percebi que meu uso impactou meu ecossistema”, observa.
No campo profissional, Piettro, que ganhou destaque nacional no programa Canta Comigo (Record) em 2023, agora se prepara para lançar um álbum em 2026 inspirado na cannabis e em terapias alternativas. “Meu trabalho sempre teve temas disruptivos, começando pela liberdade sexual. Agora quero incluir o estilo de vida canábico”, afirma.
Para ele, a planta precisa ocupar espaço na arte como pauta social. “Quero ser necessário dentro do movimento canábico, assim como já fui dentro da pauta LGBT. Precisamos incluir a cannabis no campo artístico.”
Com músicas conhecidas como Rei da Cocada (2023), Body (2020) e Sientate (2021), o artista também usa suas redes sociais — onde reúne mais de 86 mil seguidores — para falar sobre a planta. Entre postagens, participações em eventos e conteúdos sobre a cultura canábica, ele busca contribuir para a mudança de mentalidade.
“Quero que minha arte ajude a desmistificar a cannabis e a expandir a consciência sobre seu potencial na saúde e na sociedade”, conclui.
Como é DR.?
No quadro "Como é Dr.(a)?", desta semana, o médico Vicente Meneguzzo explica como a cannabis pode auxiliar no distúrbio do sono e em quadros de depressão: