Demanda por CBD no Brasil deve crescer 500% até 2030 — e o cânhamo pode suprir o mercado

Com previsão de 2,1 milhões de pacientes em tratamento, país precisará de 20 toneladas de canabidiol por ano. Cultivo nacional pode gerar receita bilionária e milhares de empregos

Publicada em 07/06/2025

Demanda por CBD no Brasil deve crescer 500% até 2030 — e o cânhamo pode suprir o mercado

Dados do relatório "O que o Brasil ganha com o cultivo do cânhamo?". Imagem: Arquivo de divulgação

A demanda por medicamentos, tecidos, papéis, alimentos e insumos para a construção civil à base de cânhamo deve crescer exponencialmente até 2030.

Um dos destaques desse movimento é o mercado nacional de canabidiol (CBD), que pode expandir em quase 500% em relação a 2023, ano em que 430 mil pacientes utilizaram 4,05 toneladas da substância. A previsão é que o Brasil chegue a 2,1 milhões de pacientes em tratamento com CBD, exigindo 20 toneladas do composto extraído da planta.

Os dados são do relatório “O que o Brasil ganha com o cultivo do cânhamo?”, elaborado pela Biodendro Consultoria Florestal e publicado pelo Instituto Escolhas em maio de 2025. O documento analisa a viabilidade do cultivo de cânhamo no Brasil e destaca os benefícios econômicos, sociais e ambientais da planta.

Além disso, o relatório aborda a regulamentação atual, as potencialidades de mercado e o aproveitamento de diferentes partes da planta, como fibras, sementes e flores ricas em CBD.

 

Investimentos podem gerar milhares de empregos e reduzir emissão de CO₂

 

De acordo com o estudo, atender à demanda nacional por produtos derivados do cânhamo até 2030 exigirá um investimento de R$ 1,23 bilhão e o plantio de 64.103 hectares da planta.

Com essa estrutura, o país poderá gerar 14.485 empregos, alcançando uma receita liquida de R$ 5,76 bilhões - o equivalente a 4,7 vezes o valor investido. O Investimento também pode capturar 1,1 milhão de toneladas de CO₂ por safra, contribuindo significativamente para a agenda climática.  

O Brasil tem alto potencial de expansão do cultivo sem desmatamento. Segundo a Embrapa, existem 28 milhões de hectares de pastagens degradadas no país, com potencial agrícola. O plantio proposto de 64 mil hectares representaria apenas 0,23% dessa área disponível.

 

Expansão internacional dos mercados de sementes e fibras de cânhamo

 

Além da indústria farmacêutica, outros segmentos do mercado de cânhamo devem crescer significativamente:

- O mercado internacional de sementes, utilizadas pela indústria de alimentos, deve crescer 264% entre 2023 e 2030.

- O mercado global de fibras, usadas na produção de papéis, tecidos e biocompostos, deve ter um crescimento de 26% no mesmo período.

 

Cânhamo é mais rentável e sustentável que culturas agrícolas tradicionais

 

Outro ponto destacado pelo documento é a ligeira vantagem do cânhamo em relação a culturas tradicionais. Na produção de fibras, por exemplo, o retorno sobre o investimento ultrapassa 100%, e a planta pode ser cultivada sem o uso de agrotóxicos — ao contrário do algodão, que apresenta retorno de apenas 49% e exige 28 litros de defensivos agrícolas por hectare.

Na produção de sementes, o desempenho também é superior. A receita líquida média do cânhamo atinge 165% sobre o investimento, enquanto a soja retorna 46%, o milho 61%, o girassol 48%, o gergelim 68% e a canola apenas 39%. Esses números reforçam o potencial econômico do cânhamo como uma alternativa altamente competitiva e sustentável para o agronegócio brasileiro.

 

O Brasil precisa rever o limite legal de THC

 

Um dos principais obstáculos regulatórios é o limite de 0,3% de THC proposto pela regulamentação do cultivo que deve ser publicada pelo Governo ainda este ano. O estudo sugere a elevação para 1%, o que seria crucial para a produção em regiões tropicais, onde o clima favorece naturalmente o aumento do teor de THC.

Com esse ajuste, seria possível cultivar variedades com até 22% de CBD (contra os atuais 6,6%), resultando em receitas líquidas muito superiores.