Junto à alegria e euforia antes de realizar uma viagem tão esperada, vários tutores também precisam conviver com a dúvida: “levo ou não meu pet junto?”. A busca por hotéis que aceitam animais de estimação, conhecidos como "pet friendly", cresceu significativamente nos últimos anos. Em 2021, a pesquisa da Decode, empresa especializada em análise de dados, apontou um aumento de 238% nas buscas por hospedagens desse tipo. A Hotéis.com revelou que 82% dos brasileiros planejam viajar com seus pets no período pós-pandemia​ (M&E | Mercado e Eventos)​ (Vet Quality).

A tendência se manteve em alta. Em 2022, uma pesquisa da Booking revelou que 43% dos viajantes brasileiros preferem reservar acomodações que aceitem seus animais de estimação. O Airbnb também registrou um aumento superior a 100% em hospedagens que aceitam pets​ publicada no Diário do Turismo. 

Para esclarecer a dúvida dos tutores, muitas vezes gerada por preocupações quanto ao comportamento de seu animal durante longas viagens de carro, ônibus ou avião, a médica veterinária Emanuela Leite explica que a cannabis pode ser uma aliada no relaxamento, na diminuição da ansiedade e do medo dos animais.

“O canabidiol tem poder ansiolítico, atuando no sistema nervoso central e no sistema endocanabinoide, gerando um efeito calmante no animal”, explica a veterinária, que ainda aponta a grande segurança dos produtos à base da planta, por apresentarem poucos ou nenhum efeito adverso.

No início do ano, Valéria Izaias deixou sua cidade, Irati - PR, para morar em Foz do Iguaçu - PR, cerca de 600 km de distância. Poucos dias antes, a psicóloga decidiu levar sua gata, Betina, junto na viagem de ônibus, que durou cerca de nove horas.

“Estava bem apreensiva, angustiada para saber como ela iria reagir, era algo novo para a Betina. Já tínhamos viajado antes, mas trajetos curtos”, comenta Izaias, pesquisadora em grupo de cannabis, que já conhecia os efeitos terapêuticos da planta.

Após conversar com sua veterinária, Valéria iniciou o uso de cannabis um dia antes da viagem para adaptar sua gata ao tratamento. Uma hora antes da viagem e durante o trajeto, a tutora deu três gotas de um óleo Full Spectrum para a gata de seis anos, e o resultado foi melhor que o esperado.

“Foi suficiente, ela estava tranquila, não miou, não vocalizou, nem ficou ansiosa ou estressada. Além disso, não ficou dopada, estava acordada, às vezes dormia, mas estava ciente durante toda a viagem”, comenta. Segundo ela, essa mesma viagem já foi realizada outras três vezes; em todas, o óleo de cannabis foi usado e o resultado foi sempre o mesmo: uma gata tranquila e consciente durante toda a viagem.

Ambiente não natural

Segundo Emanuela, viajar de carro, ônibus, avião ou trem não é algo natural para os animais. Além do ambiente, fatores como alta velocidade e temperatura também influenciam no bem-estar do animal, podendo causar náusea, vômitos e diarreia, ou efeitos neurológicos, como perda de senso de locomoção.

Por isso, é sempre indicado realizar um reconhecimento gradual do ambiente, começando cerca de duas semanas antes da viagem. “Mostrar o ambiente, a caixinha onde ele será transportado, criar um ambiente agradável, com brinquedos e outros objetos que ele já conhece, tudo isso vai auxiliar o pet na hora da viagem”, explica a veterinária.

Quanto ao uso de medicamentos à base de cannabis, conforme Emanuela, por conta da sua janela terapêutica longa e alta segurança, o uso pode ser feito em viagens pequenas, médias e longas, sempre com o acompanhamento de um médico veterinário. Além do óleo, em países onde a cannabis é regulamentada, gummies ou biscoitos já são usados por tutores para acalmar seus animais durante viagens.

Apoio científico

Conforme estudo publicado no Journal of Animal Science, viagens de carro podem ser um evento estressante para cães, mesmo quando realizadas diversas vezes. Além disso, os pesquisadores afirmam que uma dose de CBD a 4 mg/kg de peso corporal, 2 horas antes da exposição a esses eventos, atenua alguns indicadores de estresse canino.

Durante seis meses, 19 cachorros passaram por uma série de viagens curtas de carro, onde uma gama de medidas fisiológicas e comportamentais foi coletada antes, durante e depois do teste. Os resultados mostraram que o CBD reduziu significativamente alguns desses marcadores, especialmente o cortisol e comportamentos como choramingo e lambida de lábios.

“Existem estudos que mostram uma dose única tendo efeito em animais. Outros animais precisam de uma progressão de dose em até 11 vezes para ter efeito, uma janela grande para começar”, explica Emanuela ao falar do tempo de ingestão dos medicamentos. “Pode sim ser usado pontualmente, antes da viagem, começar um ou dois dias antes, mas também pode ser feito o uso contínuo do óleo. É importante analisar caso a caso, sempre com orientação de um médico veterinário”, finaliza.