Estudo da USP revela potencial terapêutico do CBD no tratamento da dor neuropática crônica e comorbidades associadas
"Nosso trabalho sugere que o CBD não só alivia a dor e as comorbidades, mas também provoca melhorias morfológicas, funcionais e moleculares no cérebro", diz o professor responsável
Publicada em 14/08/2024
Um novo estudo conduzido pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Universidade da Campânia "Luigi Vanvitelli", na Itália, oferece insights promissores sobre o uso do canabidiol (CBD) para o tratamento da dor neuropática crônica e suas comorbidades, como depressão e déficits cognitivos.
Publicado na revista científica Progress in Neuro-Psychopharmacology & Biological Psychiatry, a pesquisas foi liderada pelo professor Renato Leonardo de Freitas, coordenador do Centro Multiusuário de Neuroeletrofisiologia (CMN) e do Laboratório de Neurociências de Dor & Emoções (LNDE) da FMRP-USP, com a colaboração das pesquisadoras Ana Carolina Medeiros e Priscila Medeiros.
"O canabidiol é um fármaco amplamente estudado para o tratamento de diversas patologias devido ao seu amplo espectro de ação", explica Freitas. "Neste trabalho, investigamos seu efeito sobre as comorbidades entre dor neuropática crônica, depressão e prejuízo de memória, com ênfase na conexão neural entre o hipocampo dorsal (Hd) e o córtex pré-límbico (PrL).", completa.
Segundo o professor, a dor é uma das maiores causas de incapacidade no mundo, frequentemente acompanhada de distúrbios emocionais, como depressão e ansiedade, além de comprometimentos cognitivos. Embora existam tratamentos disponíveis, muitos são ineficazes no alívio completo dos sintomas. Diante desse cenário, a compreensão dos mecanismos neurais envolvidos na dor crônica e a busca por novos tratamentos se tornam essenciais.
CBD como terapia eficaz
O estudo aponta que o tratamento com CBD pode induzir neuroplasticidade, alterando o padrão de expressão de proteínas nas regiões cerebrais estudadas, como o PrL/CPFM e o CA1/Hd. "Nosso trabalho sugere que o CBD não só alivia a dor e as comorbidades, mas também provoca melhorias morfológicas, funcionais e moleculares no cérebro", conclui o professor.
Com essas descobertas, o estudo abre novas perspectivas para o uso do canabidiol como uma terapia eficaz contra a dor neuropática crônica, oferecendo esperança para pacientes que sofrem com essa condição debilitante e suas complicações associadas.
Metodologia
O estudo focou na subárea CA1 do hipocampo dorsal, que é uma via neural crucial para o neocórtex, especificamente o córtex pré-frontal medial (CPFM). A exposição ao estresse e sua conexão com transtornos depressivos já foram amplamente documentadas, mas esta pesquisa revelou que o hipocampo dorsal também desempenha um papel central na dor crônica e suas comorbidades.
As sinapses do córtex pré-límbico foram inibidas através da microinjeção de cloreto de cobalto, bem como de antagonistas dos receptores serotoninérgicos 5-HT1A e canabinóides CB1, revertendo os efeitos do CBD. "Mostramos que o canabidiol é um composto promissor no tratamento da dor neuropática crônica e de comorbidades associadas, como a depressão e o comprometimento da memória", afirma Freitas.