O renascimento das drogas alucinógenas sob a luz da ciência
Descubra como os psicodélicos estão sendo redescobertos pela ciência como aliados no tratamento de transtornos mentais, emocionais e espirituais
Publicada em 02/06/2025

Do tabu ao tratamento: psicodélicos, espiritualidade e a nova fronteira da saúde mental | CanvaPro
Há substâncias que não apenas mexem com os sentidos, elas abrem portais e nos convidam a sair de nós para, paradoxalmente, nos vermos melhor.
As drogas alucinógenas, por muito tempo demonizadas e lançadas à sombra da ilegalidade, voltam agora à roda das discussões, não mais como símbolos de rebeldia, mas como possíveis aliadas da saúde mental. A ciência, com sua lupa curiosa e olhos menos julgadores, começa a enxergar nessas substâncias não um risco, mas uma chance de cura.
Desde a chamada “guerra às drogas”, declarada há mais de 50 anos nos Estados Unidos, a narrativa dominante foi a do medo. Mas hoje, em hospitais, laboratórios e consultórios, pesquisadores estão abrindo espaço para uma nova história: a dos benefícios terapêuticos dos psicodélicos, que começam a ser estudados com mais profundidade para tratar transtornos como ansiedade, depressão, TEPT e até dependência química.
Alucinar não é fugir, é sentir diferente
Alucinógenos são substâncias que nos desafiam a perceber o mundo sob outra luz. Podem alterar visão, audição, tato, olfato. Podem nos desconectar do que chamamos de “realidade” para, quem sabe, religar outras verdades internas.
Esses compostos se dividem, em linhas gerais, em dois grupos:
Os clássicos – como LSD, psilocibina (dos cogumelos mágicos), DMT, peiote e ayahuasca – atuam principalmente no sistema da serotonina, neurotransmissor que regula humor, bem-estar e conexão com o mundo.
Já os dissociativos, como a cetamina, ibogaína e PCP, alteram a ação do glutamato, importante para memória, aprendizado e percepção da dor. Muitas vezes, também mexem com a dopamina, a química da euforia.
No cérebro, sementes de lucidez
Os efeitos dessas drogas são profundos porque atingem áreas-chave do cérebro. No caso dos alucinógenos clássicos, o córtex pré-frontal, responsável por decisões, controle emocional e planejamento, passa a funcionar de forma diferente. Isso pode nos levar a perceber antigas dores sob novas perspectivas. Um trauma, que antes doía como um grito abafado, pode ser revisto com compaixão e leveza.
Nos dissociativos, o que se vê é um desligamento dos padrões normais de percepção. A realidade se desfaz em fragmentos, e ali, entre os cacos, pode surgir um novo olhar.
É como se, por instantes, a mente deixasse de andar em círculos viciados para explorar caminhos antes inexplorados.
Psicoterapia e psicodélicos: uma dupla que dança
“O remédio é só metade da história”, dizem os especialistas. Psicodélicos, quando usados com suporte psicoterapêutico, ganham ainda mais potência. É nesse espaço seguro, guiado por profissionais capacitados, que experiências intensas se transformam em cura.
Substâncias como MDMA, psilocibina e ayahuasca já mostraram resultados promissores na redução de sintomas de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático. Mas mais do que isso: ajudaram pessoas a reconectar-se consigo mesmas e com o mundo.
Espiritualidade: a ciência também se curva ao invisível
Um estudo recente da Dra. Adele Lafrance, da Universidade Laurentian, no Canadá, mostrou que participantes de experiências psicodélicas relataram maior conexão espiritual e melhor regulação emocional. “Talvez estejamos subestimando o papel da espiritualidade no processo de cura”, disse ela.
E talvez seja esse o fio que une ciência e alma: a coragem de aceitar que nem tudo se mede em números. Algumas curas vêm com lágrimas, visões, abraços internos. Vêm no silêncio depois da tempestade sensorial.
É claro: os riscos existem, o uso recreativo indiscriminado pode ser perigoso, e ainda há muito a ser estudado. Mas ignorar os potenciais terapêuticos das drogas alucinógenas seria fechar os olhos para uma revolução silenciosa que já começou.
Não se trata de estimular o consumo, mas de abrir caminhos. Trilhar, com responsabilidade, a trilha do que pode, sim, ser transformador.
Com informações de El Planteo.