Paciente utiliza cannabis para lidar com sintomas de ansiedade, medo, nervosismo e desconforto social

Diagnosticado com transtorno de ansiedade social, o paciente já fez uso terapêutico da cannabis pela via fumada e hoje utiliza o óleo a base da planta em seu tratamento

Publicada em 29/08/2024

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Danilo Duarte, paciente de cannabis. Imagem: Arquivo pessoal

Morador de Salesópolis, região metropolitana de São Paulo, Danilo Duarte, de 23 anos, começou a apresentar sintomas de transtorno de ansiedade social (TAS), também conhecido como fobia social, ainda na infância. “Passei por vários episódios que influenciaram nos meus problemas de saúde mental”, ele relata.

Caracterizada como uma doença mental crônica que provoca ansiedade, medo, nervosismo e desconforto irracional em situações sociais, o TAS causou alguns episódios depressivos em Danilo. Seu diagnóstico veio em 2019, quando estava concluindo o ensino médio. Segundo ele, os piores momentos ocorriam antes da socialização com outras pessoas, quando sua mente criava dúvidas e cenários catastróficos: “O que pode dar errado? Como vai ser? Quem vai estar lá?”.

Na mesma época, Duarte teve sua primeira experiência com a cannabis, através do uso fumado da planta. Segundo ele, a maconha ajuda na tomada de decisões e na coragem para socializar com outras pessoas, mas ainda pode trazer episódios de ansiedade e medo.

Cerca de dois anos após o diagnóstico, durante a pandemia de Covid-19, os sintomas de Danilo pioraram, e ele precisou "trancar" e "abandonar" o curso de Medicina Veterinária. “Tentei diversas terapias convencionais e nada resolvia meus problemas.” Hoje, o jovem atua como empresário e, graças ao tratamento com cannabis, consegue conviver melhor socialmente.

 

Conhecendo a Terapêutica Canábica


No ensino médio, quando já era usuário de maconha, Duarte começou a estudar a planta e conhecer seu potencial terapêutico. “Aprendi seus efeitos no corpo humano, conheci o sistema endocanabinoide e todos os seus benefícios”, comentou.

Em 2024, cerca de três meses atrás, Danilo iniciou seu tratamento com óleo de canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabinol (THC), e agora sente mais "calma" e "paz" em sua mente. “Parece que estou sentado em uma cadeira, enxergando todos os meus pensamentos. Minha relação com o ambiente e com as pessoas melhorou, tenho mais disposição para sair de casa e me conectar com os outros”, relata.

Além disso, Duarte destaca o sentimento de equilíbrio na sua homeostase corporal - a capacidade do organismo de manter o ambiente interno em equilíbrio, mesmo diante de mudanças externas radicais. “Durante a infância e adolescência, com esses transtornos mentais, eu fugi dessa regulagem do corpo, mas agora meu sono e minha concentração melhoraram muito, e de uma forma natural.”

“Meu corpo começou a sentir sono no horário certo, sem aquele peso dos remédios convencionais. Antes, eu me sentia 'morto', muito cansado, sem conseguir raciocinar direito. Agora, me sinto conectado com a minha mente e minha consciência", completa ele. Segundo o paciente, o óleo permite que ele “enxergue onde estão os problemas”.

Durante momentos de "crise", Duarte utiliza cannabis rica em THC de forma vaporizada. Segundo ele, essa prática não é muito frequente, pois os episódios de ansiedade já não ocorrem há muito tempo.

 

Evidencias científicas 

 

Segundo uma pesquisa publicada em 2014, o CBD reduz a ansiedade e o medo de falar em público em pessoas com fobia social.

Realizada pelo pesquisador Mateus Bergamaschi, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP), em parceria com a Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), ambas da USP, a pesquisa contou com a participação de 24 pessoas, entre alunos de graduação e pós-graduação.

Os resultados da pesquisa são importantes, pois oferecem uma nova alternativa de tratamento para essas pessoas, melhorando a qualidade de vida e aumentando as chances de sucesso do tratamento. A utilização do composto mostrou-se segura e bem tolerada por humanos. No entanto, ele ainda precisa ser aprovado por organismos internacionais de regulação antes de ser aplicado em pacientes.