Setor de cannabis no Brasil entra em fase de consolidação e mira integração com o agronegócio
Crescimento sustentável depende de educação técnica e da entrada do Agro na cadeia produtiva
Publicada em 01/12/2025

O mercado de cannabis no Brasil começa a deixar a fase inicial para entrar em um estágio de consolidação. Imagem: Canva Pro
Durante a 4ª edição do Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal, Alex Lucena, sócio da The Green Hub, analisou o atual cenário do setor. Como um dos pioneiros da indústria, o executivo observa que o mercado de cannabis no Brasil começa a deixar a fase inicial para entrar em um estágio de consolidação.
Lucena, que atua na área há sete anos, descreve a sensação de acompanhar o evento como a de um "padrinho" do setor. Ele observa empresas, que antes eram pequenas iniciativas, ganhando tração e relevância comercial.
No entanto, o especialista alerta para uma nova virada de chave no país. Segundo ele, o crescimento sustentável dependerá fundamentalmente de dois pilares, a educação massiva e a integração com o agronegócio.
O mercado de cannabis e a potência do Agro
Para Lucena, o Brasil possui um caminho natural e obrigatório devido à sua potência agrícola, a produção nacional em larga escala. A expectativa do empresário recai sobre a implementação do conceito “From seed to sale” (da semente à venda).
Esse modelo integraria o cultivo diretamente à indústria de transformação, fortalecendo a cadeia produtiva. "O setor está falando 'nosso próximo passo vai ser esse', tem uma expectativa muito grande", afirma.
Lucena destaca a vantagem competitiva do país. "O Brasil é o maior produtor agrícola do mundo, tecnologicamente avançado. E não tem por que a gente não estar nessa corrida", completa o executivo sobre o potencial do mercado de cannabis.
Avanços regulatórios e a produção nacional
A visão de Lucena alinha-se com o cenário regulatório em transformação apontado pelo Anuário da Cannabis Medicinal 2025, da Kaya Mind. O setor vivenciou avanços cruciais nos últimos 12 meses, incluindo decisões favoráveis do STJ sobre o cultivo de cânhamo industrial e medicinal.
Essas medidas abrem caminho para uma futura produção nacional regulamentada no mercado de cannabis. Embora a indústria ainda dependa majoritariamente de importações, o potencial agrícola já começa a ser explorado pelo associativismo.
O anuário aponta que existem pelo menos 27 hectares de terra ocupados pelo cultivo de cannabis por associações de pacientes no Brasil. Para Lucena, a entrada do agronegócio tradicional nesse circuito é apenas uma questão de tempo.
"Venho conversando com alguns grupos e o pessoal do agronegócio está muito engajado.", relata.
Educação é desafio central no mercado de cannabis
Se o agronegócio representa a infraestrutura do futuro, a educação continua sendo o alicerce fundamental para o presente. Lucena reforça que a falta de conhecimento técnico ainda é uma barreira significativa para a expansão do mercado de cannabis.
"A coisa mais importante do desenvolvimento é a nossa indústria estar educando todos os stakeholders. Os médicos não aprendem sobre o sistema endocanabinoide nas universidades", pontua.
Para o empresário, a receita para o sucesso é clara. "Educação, educação, educação, informação". Os dados do setor corroboram a preocupação levantada pelo especialista durante o painel.
Apesar do crescimento no número de prescritores, a adoção clínica ainda é tímida. Menos de 1% dos profissionais habilitados no Brasil prescreve produtos derivados da planta regularmente, evidenciando o gargalo educacional.


