UFV desenvolve técnicas para impulsionar o cultivo de cânhamo no Brasil

Parceria com Buds INC resulta em inovações como a miniestaquia e biochar de resíduos de cannabis, destacando o potencial econômico e sustentável da planta

Publicada em 24/01/2025

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Imagem: Divulgação

A Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, em colaboração com a starup Buds INC, está desenvolvendo um projeto voltado para a produção de cânhamo industrial. Por meio de técnicas inovadoras, como a miniestaquia e a criação do primeiro biochar de resíduos de cannabis no Brasil, os pesquisadores buscam consolidar o país como referência global na cadeia produtiva de cânhamo. O projeto é realizado sob a liderança do engenheiro florestal Gustavo Baêsso, pesquisador da Buds INC, e do Prof. Gleison dos Santos, do Departamento de Engenharia Florestal da UFV.


Origem e propósito do projeto


O cânhamo, uma variedade de cannabis sem propriedades psicoativas relevantes, apresenta um vasto potencial industrial. “Enquanto a produção de fibras para celulose e papel é amplamente explorada com árvores no Brasil, percebemos que o cânhamo não estava recebendo a mesma atenção, apesar de suas vantagens econômicas e ambientais”, explica Gustavo Baêsso.


O projeto surgiu para suprir essa lacuna, alinhando-se à expertise brasileira na produção de fibras e ao crescente debate sobre a regulamentação da cannabis no país. “Queremos desenvolver tecnologias que permitam uma cadeia produtiva sustentável e competitiva, conectando ciência, inovação e responsabilidade ambiental.”


Uma das conquistas do projeto é o desenvolvimento da técnica de miniestaquia, uma técnica adaptada da silvicultura que permite a produção de milhares de mudas de cânhamo em espaços reduzidos, utilizando tubetes biodegradáveis que diminuem o impacto ambiental e promovem a sustentabilidade diminuindo o uso de plásticos no processo produtivo.

 

Inovação e sustentabilidade como pilares


 

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Imagem: Divulgação

Outro marco da pesquisa foi o desenvolvimento do primeiro biochar de resíduos de cannabis no Brasil. Esse material, produzido em parceria com o Laboratório de Painéis e Energia da Madeira (LAPEM/UFV), é voltado para aplicações agrícolas e energéticas. “O biochar é uma solução que agrega valor aos resíduos da planta, reduzindo desperdícios e gerando impactos positivos para o meio ambiente”, destaca Baesso.
Essas inovações posicionam o cânhamo como alternativa sustentável para indústrias diversas, como a têxtil, papel e construção civil. Além disso, a planta tem potencial para recuperar solos degradados, fixar carbono e diminuir a dependência de insumos químicos, consolidando sua relevância para a economia verde.


Impacto econômico e oportunidades globais


A pesquisa da UFV também destaca as vantagens econômicas do cultivo de cânhamo. “O Brasil, como maior exportador de fibras curtas de celulose, já tem a infraestrutura e a expertise necessárias para atender o mercado global de cânhamo, e quem sabe lidera-lo em pouco tempo”, afirma o engenheiro florestal.


O cânhamo pode gerar empregos, atrair investimentos e diversificar o agronegócio brasileiro. Na indústria têxtil, ele oferece uma alternativa mais sustentável ao algodão. No setor de construção civil, materiais como o hempcrete (concreto de cânhamo) podem revolucionar as práticas construtivas, oferecendo leveza, durabilidade e sustentabilidade.


Atualmente, a China é líder mundial na produção de cânhamo, mas o Brasil, com suas condições climáticas ideais e terras férteis, tem potencial para ocupar esse posto. “Com a regulamentação adequada, poderemos atender à crescente demanda global e alavancar nosso agronegócio com inovação e competitividade”, avalia Baesso.

 

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Regulamentação: o maior desafio


Embora as pesquisas da UFV estejam em estágio avançado, a falta de regulamentação no Brasil ainda é um entrave significativo. A recente decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que determinou prazo para a regulamentação do cultivo de cannabis, é vista como um marco histórico pelos pesquisadores.


“A decisão do STJ começa a caminhar no sentido de oferecer segurança jurídica ao setor, e fortalece o ambiente para avanços científicos e tecnológicos. No entanto, é essencial que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) esteja envolvido na criação de um arcabouço regulatório para o cânhamo”, ressalta Baesso.


Um dos grandes desafios regulatórios é a ausência de um sistema para o registro oficial de cultivares de cânhamo no Brasil. Sem isso, não é possível avançar em melhoramento genético e adaptar variedades às condições climáticas do país. “Estamos em diálogo com o MAPA para iniciar o processo de estabelecer descritores morfológicos que viabilizem esse registro, garantindo avanços no setor agrícola e industrial”, explica o pesquisador.


Projeções para o futuro


Com a regulamentação do cultivo de cannabis, os próximos passos incluem ampliar as áreas de plantio, criar parcerias com agricultores e cooperativas, e desenvolver infraestrutura para o processamento de fibras e derivados. Investimentos em pesquisa e inovação também serão cruciais para explorar novas aplicações do cânhamo, como bioplásticos e bioenergia.


“O Brasil tem todas as condições de liderar o mercado global de cânhamo, desde que construa uma base regulatória sólida e incentive a produção nacional”, conclui Baêsso.

 

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