Líder da oposição dirigirá Instituto de Regulação de Cannabis no novo governo
O presidente eleito Yamandú Orsi nomeou Daniel Radio, ex-secretário-geral da Junta Nacional de Drogas, para comandar o Instituto de Regulação e Controle do Cannabis (IRCCA).
Publicada em 26/02/2025
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Imagem Ilustrativa: IA
O presidente eleito Yamandú Orsi definiu que o diretor do Instituto de Regulação e Controle do Cannabis (IRCCA) será Daniel Radio, que atuou como secretário-geral da Junta Nacional de Drogas durante o governo do atual presidente, Luis Lacalle Pou.
Radio pertence ao Partido Independente, um dos aliados da coalizão de partidos com os quais Lacalle Pou chegou à presidência.
O IRCCA, criado a partir da lei de 2013 que regula e controla o mercado de cannabis no Uruguai, é responsável por supervisionar as políticas e ações relacionadas aos clubes de cannabis, à fiscalização dos cultivadores registrados e também às farmácias autorizadas a vender maconha. O instituto também regula a indústria do cannabis medicinal e a pesquisa científica.
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Após sua nomeação, Radio adiantou que, pelo menos no que se refere à maconha, a política de drogas do governo atual terá uma certa continuidade no novo governo. No passado, como deputado do Partido Independente, Radio trabalhou em projetos para regulamentar o mercado da maconha antes da aprovação da lei vigente, sancionada durante a presidência de José Mujica.
O mercado de drogas
Em relação à sua visão sobre o mercado de drogas, o futuro diretor do IRCCA já manifestou diversas vezes uma postura liberal. Recentemente, em entrevista ao programa de rádio En Perspectiva, Radio afirmou que uma das características do conservadorismo é a defesa das tradições e que, nesse sentido, a tradição no que diz respeito às drogas não é a proibição. “A proibição é um fenômeno quase contemporâneo. O mundo, em matéria de drogas, em geral não proibia e tinha menos problemas do que agora.”
Radio é um dos poucos integrantes do governo de Lacalle Pou que permanecerão na administração da Frente Ampla, liderada por Orsi. Durante os últimos cinco anos à frente da Secretaria Nacional de Drogas, ele enfrentou críticas de membros de sua própria coalizão, principalmente do partido mais conservador da aliança, o Cabildo Abierto.
Em um dos debates mais recentes, Radio rebateu a ministra da Saúde Pública, Karina Rando, do Cabildo Abierto, que havia questionado a regulamentação das drogas como política pública. O programa de governo do Cabildo Abierto para as eleições de 2024, inclusive, propunha a revogação gradual da lei que regula o mercado de cannabis.
Guerra perdida
Em entrevista ao jornal El País, Radio afirmou que a ministra não compreendia a lógica desse mercado. “Eles acreditam que é possível impedir que a oferta encontre a demanda. Achamos que conseguiremos vencer essa guerra no Uruguai? Isso é gastar dinheiro, pólvora em chimango, porque não funciona.”
Nos últimos meses, à frente da Secretaria de Drogas, Radio vinha trabalhando em um projeto de lei para eliminar o registro de compradores de cannabis. Atualmente, quem deseja adquirir maconha autorizada pelo Estado deve se registrar como comprador e comprá-la em farmácias autorizadas. Justamente sobre o número de farmácias habilitadas para vender maconha, Radio também trabalhava para expandi-lo. Atualmente, há vários departamentos no Uruguai sem farmácias autorizadas, o que contraria o espírito da lei, que busca facilitar o acesso dos consumidores para evitar que recorram ao mercado ilegal. Além de aumentar o número de farmácias, Radio propôs que outros estabelecimentos comerciais possam ser autorizados a vender cannabis.