Estudo vê correlação entre uso de Ayahuasca e melhorias na saúde mental por até 12 meses
Pesquisa observou consumo de ayahuasca e melhora em sintomas de depressão e ansiedade. Associação identificada não significa necessariamente relação de causa e efeito
Publicada em 07/03/2025

Um estudo estadunidense e australiano investigou os efeitos do consumo de ayahuasca na saúde mental e no bem-estar a longo prazo. A pesquisa acompanhou 66 adultos sem exposição prévia à substância que participaram de cerimônias em igrejas independentes na América do Norte.
Os participantes responderam a questionários antes da experiência e nos períodos de 7 dias, 1 mês, 6 meses e 12 meses após o uso. Segundo o artigo, os resultados indicaram reduções significativas nos níveis de depressão, ansiedade e estresse, além de melhorias na espiritualidade e autoeficácia.
Os dados apontaram que os efeitos positivos foram mais duradouros em indivíduos com diagnóstico prévio de transtornos depressivos ou ansiosos, enquanto aqueles sem diagnósticos experimentaram benefícios mais transitórios. Os sintomas de depressão e ansiedade continuaram reduzidos ao longo do período de um ano, sugerindo um impacto terapêutico prolongado da substância.
Mudanças na personalidade e no bem-estar geral
Além dos benefícios na saúde mental, a pesquisa também identificou alterações em traços de personalidade e bem-estar subjetivo. Os participantes relataram menor afeto negativo, emocionalidade negativa e autoalienação, além de aumento na aceitação de si mesmos e nas relações interpessoais.
No entanto, algumas mudanças foram temporárias, enquanto outras se mostraram mais estáveis ao longo do tempo.
O estudo também identificou aumento no senso de conexão com a natureza e maior satisfação nos relacionamentos interpessoais, fatores que contribuem para uma melhora geral na qualidade de vida.
Curiosamente, houve aumento de curto prazo no afeto positivo, mas os níveis retornaram à linha de base após alguns meses, sugerindo que a experiência pode oferecer momentos de euforia inicial, mas os efeitos emocionais mais profundos são os que perduram.
Redução no consumo de álcool e cannabis
Outro achado foi a redução no consumo de álcool e cannabis, que se manteve significativa apenas no primeiro mês após a cerimônia. Os pesquisadores sugerem que esse efeito pode estar relacionado a uma maior consciência sobre hábitos de vida e um aumento na autoeficácia, mas não foi sustentado a longo prazo.
Esse resultado difere de outros estudos que apontaram relações mais duradouras entre o uso de ayahuasca e a redução no consumo de substâncias psicoativas. A frequência do uso da ayahuasca e o contexto social em que é consumida podem influenciar na manutenção dessas mudanças comportamentais.
Influência nos traços de personalidade e saúde mental
A pesquisa apontou mudanças nos traços de personalidade dos participantes ao longo do tempo. Houve, aparentemente, diminuição significativa na emocionalidade negativa e na autoalienação, sugerindo um efeito positivo na capacidade de lidar com emoções e na autenticidade individual.
Em contrapartida, aumentos em abertura à experiência e amabilidade foram registrados apenas em momentos específicos do acompanhamento, indicando que esses traços podem ser mais sensíveis a outros fatores contextuais.
Sensação de espiritualidade e de conexão com a natureza
Outro ponto foi a sensação de aumento na espiritualidade e na conexão com a natureza, que persistiu até o final do estudo. O fortalecimento desses aspectos pode estar ligado à melhora no bem-estar e na resiliência emocional dos participantes.
Impactos nos relacionamentos e na autoeficácia
Os participantes relataram maior satisfação nos relacionamentos interpessoais, o que pode estar associado a uma suposta melhora na empatia e na capacidade de estabelecer conexões mais autênticas.
Além disso, foi apontado um aumento na autoeficácia, que se manteve estável ao longo do tempo, sugerindo que a experiência com a ayahuasca pode ter efeitos duradouros na percepção de controle sobre a própria vida.
Limitações
Os autores do estudo alertam para limitações da pesquisa, como o uso de questionários de autorrelato, que podem estar sujeitos a viés de resposta, e a ausência de um grupo de controle. Além disso, os participantes foram recrutados em igrejas específicas, o que pode limitar a generalização dos resultados para outros contextos.
Futuros estudos clínicos randomizados são necessários para entender melhor os mecanismos envolvidos nos efeitos terapêuticos da ayahuasca e para avaliar se intervenções estruturadas podem potencializar seus benefícios. Segundo o artigo, pesquisas adicionais também poderiam explorar o impacto da frequência do consumo e do ambiente cerimonial nas respostas individuais.