Osmar Terra relaciona morte de criança por overdose de Fentanil com legalização da maconha: Qual sentido?

"A correlação entre o abuso de medicamentos e a regulação da cannabis não faz sentido algum", afirmam Patrícia Vilela e Viviane Sedola

Publicada em 27/09/2023

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Por Leandro Maia

O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), conhecido por seu histórico de negacionismo durante a pandemia, tem se destacado recentemente em sua oposição à legalização da maconha no Brasil, um tema em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF). Sua postura, no entanto, foi marcada pela disseminação de desinformação, um padrão que já havia sido observado durante a pandemia. Um exemplo disso ocorreu recentemente, quando Terra tentou relacionar a morte de uma criança por overdose de Fentanil com a legalização da maconha no estado de Nova York.

A correlação entre o abuso de medicamentos e a regulação da

cannabis não faz sentido algum.

No entanto, ao analisar os fatos, fica claro que essa explicação não faz sentido. O Fentanil é um medicamento registrado e vendido sob prescrição médica nos Estados Unidos, usado para tratar dor. Mesmo em doses baixas, essa substância pode ser letal e tem contribuído para uma grave crise de saúde pública nos EUA, causando mais de 60 mil mortes por overdose nos últimos 12 meses. Enquanto isso, a maconha, legalizada em 2021 em Nova York, não apresenta registros de óbitos por overdose em toda a literatura científica, além de possuir um potencial terapêutico significativo.

A tentativa de regulamentações correlacionais de substâncias distintas cria uma cortina de fumaça em torno do debate central: a necessidade de criar políticas públicas que garantam a segurança da população. É particularmente surpreendente que essas mensagens enganosas venham de um parlamentar e de um médico.

Em um artigo publicado em Veja, Patrícia Vilela e Viviane Sedola classificaram a fala de Osmar Terra como uma fakenews. "O ponto central da proposta que nós duas fizemos como membros do “Conselhão” do presidente Lula reside no fato de que não há lógica em proibir substâncias pouco perigosas para a saúde e de alto potencial terapêutico, como a Cannabis e psicodélicos – a exemplo dos cogumelos Psilocybe, enquanto estão liberadas outras altamente danosas como o Álcool e o Tabaco – que deveriam pagar impostos maiores revertidos para o SUS -, ou opiáceos, como o Fentanil."

A criação de um grupo de trabalho para uma nova Política Nacional de Substâncias Psicoativas para o Brasil é um passo importante nessa direção. Em outro trecho, elas destacaram que "tratar de forma científica e ponderada as substâncias estigmatizadas ao longo da história e que hoje contam com provas de potencial terapêutico é a coisa responsável a se fazer. Precisamos contar com o discernimento dos nossos parlamentares e dos nossos médicos para discutir de forma honesta temas tão caros para a sociedade como a saúde e a segurança das crianças. A evolução das políticas públicas bate à porta e a saúde não pode esperar."

Viviane Sedola é empreendedora de impacto e fala sobre cannabis, tecnologia, startups, políticas públicas e o papel da mulher nesses espaços; Patrícia Villela Marino é presidente do Instituto Humanitas360 e conselheira do Instituto de Pesquisas Sociais e Econômicas da Cannabis; ambas fazem parte do “Conselhão” do governo Lula.

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