Cannabis e Jogos Olímpicos: uma viagem da antiguidade aos dias atuais

Os Jogos da Antiguidade persistiram até 394 d.C., quando os romanos conquistaram a Grécia

Publicada em 11/01/2024

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Leandro Maia

No coração do santuário grego de Olímpia, onde a chama olímpica será acesa em 16 de abril, uma tradição milenar prepara-se para mais um capítulo na história dos Jogos da Era Moderna. No entanto, este ano marca também o primeiro aniversário da legalização do uso oficial do canabidiol (CBD) por atletas nos Jogos Olímpicos, um marco significativo que teve sua estreia nos Jogos de Tóquio em 2020-21.

A Agência Mundial Antidoping (Wada) retirou o CBD da lista de substâncias proibidas em setembro de 2017, uma decisão que entrou em vigor em 1º de janeiro de 2018. Esta mudança foi um alívio para atletas de alta performance, que agora têm acesso a esse componente da cannabis para ajudar no alívio de dores, lesões e esgotamento físico.

Engana-se quem pensa que o uso de plantas e ervas por atletas é uma novidade da Era Moderna. De acordo com relatos do filósofo ateniense Lucius Flavius Philostratus, por volta de 800 a.C., atletas já consumiam chás de diversas ervas estimulantes, incluindo o uso de "cogumelos", em busca de melhorias no desempenho atlético.

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A história nos revela que os antigos gregos não eram estranhos ao uso de canabinóides. O filósofo e médico grego Claudio Galeno descreve uma pomada chamada "fuscum olympionico inscriptum" ou "olympic victor’s dark ointment", que era reservada para vencedores olímpicos. Essa pomada continha uma mistura de ervas ricas em canabinóides e opiáceos, indicada para alívio de dores e inchaços.

Surpreendentemente, os canabinoides usados nessa receita não eram da planta cannabis, mas sim da árvore do olíbano, conhecida por produzir o santo incenso. Essa tradição antiga conecta-se à recente liberação do canabidiol nos Jogos Olímpicos modernos.

Os Jogos da Antiguidade persistiram até 394 d.C., quando os romanos conquistaram a Grécia. O espírito olímpico ressurgiu em 1894, mas apenas em 1960, em Roma, o doping tornou-se uma preocupação oficial após a morte do ciclista dinamarquês Knud Enemark Jensen.

O fair play, um pilar fundamental dos Jogos Olímpicos, foi ameaçado em 1998, quando o snowboarder canadense Ross Rebagliati testou positivo para cannabis. O Tribunal Arbitral do Desporto anulou a decisão do COI, mas o episódio lançou luz sobre a questão do uso da cannabis no esporte.

Mais recentemente, em 2021, a velocista americana Sha’Carri Richardson foi desclassificada dos Jogos de Tóquio devido ao uso de cannabis. Ela admitiu o consumo, alegando que buscava lidar com a morte de sua mãe.

No Brasil, o ex-jogador de vôlei Giba também enfrentou problemas com o antidoping devido à presença de THC, um metabólito da cannabis. A recente aprovação do projeto de lei no Senado (PLC 6/2017), que exige alertas nos rótulos de substâncias proibidas, visa prevenir o doping involuntário.

A discussão sobre a cannabis no esporte ganha destaque no cenário internacional. Em janeiro de 2024, a Wada atualizou a lista de substâncias proibidas, mantendo todos os canabinoides proibidos, exceto o canabidiol.

O diretor executivo do Comitê Olímpico do Brasil, Marcus Vinícius Freire, vê o uso do canabidiol com bons olhos, especialmente o CBD isolado. No entanto, ressalta a importância de manter o THC, responsável pelo "barato", como uma substância proibida para preservar o exemplo que os atletas dão para a juventude.

Enquanto a discussão sobre a cannabis nos Jogos Olímpicos continua, a história da cannabis medicinal no esporte está sendo escrita a passos largos ou lentos, refletindo uma mudança de paradigma e preconceito. A aprovação do projeto de lei no Senado brasileiro é um sinal dessa evolução, abrindo caminho para um novo estágio na relação entre o esporte de alto rendimento e o uso de cannabis.

Nota: As informações desta reportagem foram extraídas do artigo escrito por Debora Ribeiro de Almeida e Vladimir Saboia, disponível em ConJur.