Cannabis pode ajudar a controlar a ansiedade; conheça a história de Elizabeth

Lizie Araújo afirma que a mãe de 68 anos “encontrou um estado de equilíbrio emocional muito mais estável”

Publicada em 26/12/2022

capa

Por Lucas Góis

A oftalmologista capacitada para prescrever cannabis medicinal, Lizie Araújo, de 35 anos, atende em um consultório em São Miguel do Gostoso, no  interior do Rio Grande do Norte. Para oferecer uma alternativa aos pacientes em situações em que o tratamento convencional não proporcionava o resultado esperado para curar algumas doenças, ela passou a orientar sobre os benefícios da planta.

 “Comecei a refletir que estaria deixando de ajudar muitas pessoas, evitando o tratamento alternativo. Precisava expandir e levar essa medicina canábica para meus pacientes”, disse Lizie. 

Ao olhar para dentro de casa, após  diversas experiências com os pacientes, a médica começou a observar a rotina da mãe. A senhora Elizabeth Dias, de 68 anos, andava muito ansiosa. Na tentativa de descobrir o motivo da “ inquietação” da mãe, elas foram ao cardiologista. Foi quando a filha descobriu que o quadro de ansiedade da mãe estava relacionado à elevação da pressão arterial. 

Segundo o  médico especialista, o estresse e preocupações do dia a dia estavam afetando o quadro emocional de Elizabeth que passou, na época, a usar medicamentos controlados.  Foi a partir desse momento que Lizie decidiu prescrever canabidiol para a própria mãe.

O tratamento completou dois meses, e Elizabeth já apresenta um quadro emocional mais estável.

“A Cannabis ajudou a minha mãe a abrir a mente para o autocuidado. Além de passar a lidar melhor com os problemas cotidianos, houve redução de dores na articulação do quadril”, explicou.

Atualmente, Lizie não consegue imaginar a sua mãe sem o uso do canabidiol. "O sono dela já está mais profundo e tem maior disposição com o tratamento por meio de um mix de THC que não agita e somente equilibra", contou.

O processo de aceitação de Elizabeth, adepta ao uso de fitocanabinoides para controlar a ansiedade, foi complicado porque, como ela mora em uma cidade pequena, tinha o medo de ser taxada de “maconheira”.

Lizie afirma que a “cannabis é um mundo em que as pessoas devem entrar de cabeça para conhecer os resultados. "Na minha profissão, sei como isso é importante e como devo passar para os meus pacientes e, principalmente, minha mãe”, contou.

O tratamento à base de cannabis na comunidade

Hoje, Lizie faz o acompanhamento de 12 pacientes. Ela conta que uma paciente chegou a ter receio de iniciar o tratamento por dois motivos: o custo para aderir aos produtos à base de cannabis e o preconceito em relação à planta. No entanto, com informação científica e resultados satisfatórios de outros tratamentos, a visão dela sobre a cannabis mudou e o tratamento alternativo passou a ser aceito por ela.

Segundo a médica, o uso de diversos remédios foram diminuindo e a cannabis tornou-se protagonista no dia a dia dessa paciente que deixou de lado a resistência em relação ao uso da cannabis. 

“Ela veio até mim por conta de uma crise de glaucoma agudo e já havia realizado diversos procedimentos, mas com o uso do canabidiol, ela se tornou outra pessoa”, afirma. 

Por causa da prescrição da cannabis, ela passou a ser chamada pela comunidade de “doutora zé gotinha”.

Além disso, a oftalmologista reforça que a negação de efeitos canabinoides, na maioria das vezes, é puro preconceito social enraizado que dificulta o acesso do paciente e prejudica o debate do tema no país.