<strong>CBCM23: Dosagens, novos estudos e possibilidades na odontologia </strong>

Cannabis na odontologia, no eixo cérebro-intestino e o uso clínico dos canabinoides foram pautas do bloco “Saúde” nesta sexta-feira

Publicada em 06/05/2023

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Por Bianca Rodrigues

A primeira palestra do dia foi ministrada pelo Dr. Tchello Pierro, - médico hematologista e professor universitário - que abordou o tema “A cannabis que todo médico precisa saber”. Trouxe novas descobertas sobre a atuação dos canabinoides nos receptores do sistema nervoso central, seus efeitos, dosagens seguras e protocolos de utilização. 

“É preferível que o tratamento comece com uma dose baixa”.

Dr. Tchello Pierro

Na introdução, ele falou  sobre a história do sistema endocanabinoide e explicou  as funções dos receptores CB1, CB2, anandamida, 2-Ara-G e neuromodulação, aprofundando sobre a síntese e degradação de cada um deles. Abordou ainda as vias de administração - oral, retal, subcutânea e ocular e o tempo de biodisponibilidade de cada uma delas. Explanando sobre alguns casos clínicos, o doutor citou um estudo de adolescente com epilepsia refratária que utilizava 2,5ml/Kg/por dia. “Essa é a dose que devemos utilizar? Não! Eu começaria com uma dose muito menor”. 

Logo após, ministrou uma aula para médicos clínicos no que tange a dosagens, resoluções do Conselho Federal de Medicina, dicas para  prescrever medicamentos à base de cannabis pela primeira vez e medicações aprovadas pela Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária), além de citar alguns casos clínicos. 

“Menos de 1,5% de dentistas prescrevem
canabinoides”, Cynthia de Carlo

Trazendo novas perspectivas sobre o uso de canabinóides na odontologia, a Dra. Cynthia de Carlo, cirurgiã-dentista e integrante do corpo clínico do CEDMEDIC (Centro de Excelência Canabinoide) explanou sobre o uso de medicamentos à base de cannabis para o tratamento de patologias odontológicas e estudos recentes sobre periodontite. 

Cynthia de Carlo no Congresso Brasileiro de Cannabis Medicinal 2023

Foi apresentada a aplicação de óleo full spectrum como  CBD (canabidiol), THC (tetrahidrocanabinol), terpenos e flavonóides para tratamentos de disfunção temporomandibular (DTM) - mais conhecida como “bruxismo”-,  neuralgia do trigêmeo, síndrome da ardência bucal e controle de placa. Cynthia explica que menos de 1,5% dos dentistas no Brasil prescrevem canabinoides como alternativa terapêutica, mesmo a cannabis possuindo uma ótima resposta nesses casos. Nos exemplos citados acima, os efeitos do produto podem ser anti-inflamatórios, ansiolíticos, analgésicos e antiespasmódicos. 

A doutora trouxe ainda um estudo recente, publicado pelo The New York Times, sobre a realização de uma avaliação dentária de problema periodontal que pode ser responsável por identificar 11 doenças sistêmicas, como demência, diabetes, entre outras, reforçando a importância da atuação conjunta entre médicos e dentistas.

“Expandir os conhecimentos é necessário

para se entender os processos de adoecimento”, Marcus Zanetti

Encerrando as palestras da primeira parte do Bloco “Saúde” desta sexta-feira (05/05), o Dr. Marcus Zanetti, médico psiquiatra e pesquisador, apresentou um panorama sobre o tema: “Cérebro e Intestino: a influência da microbiótica com o sistema endocanabinóide”. Explicou  as funções do sistema endocanabinoide no trato gastrointestinal, além da relação entre a microbiota intestinal e a produção de endocanabinoides. 

Marcus Zanetti palestrando no Congresso Brasileiro de Cannabis Medicinal 2023

Em linhas gerais, o eixo intestino-cérebro e o sistema endocanabinoide é uma relação importante para o equilíbrio do nosso corpo, tanto na saúde quanto no adoecimento, devido a uma relação bidirecional entre ambos. O trato gastrointestinal modula funções muito importantes como a motilidade e permeabilidade intestinal, imunidade e reflexo de vômito. Atualmente, existe  uma linha de pesquisa das alterações do sistema endocanabinoide em alguns distúrbios gastrointestinais, como por exemplo a síndrome do intestino irritável. 

Há também estudos que mostram a modulação do metabolismo de lipídios em função da microbiota intestinal, alterando assim a produção de endocanabinoides no corpo e no cérebro - o que contribui indiretamente para a regulação da neurotransmissão. Marcus afirma que expandir os conhecimentos sobre o assunto é importante para que possamos entender melhor alguns processos de adoecimento, além da maior precisão para desenvolver novos medicamentos baseados nos receptores e moléculas do sistema endocanabinoide.