Médico esclarece uso medicinal do THC após fala polêmica de deputada do PL

Existem outras espécies, como o cacau e a trema africana, que contêm canabinoides, mas não em quantidades adequadas para os seres humanos

Publicada em 30/10/2023

capa
Compartilhe:

Opinião: Jimmy Fardin

As pessoas confundem vários conceitos. A planta possui vários canabinoides com propriedades medicinais incluindo o Canabidiol - CBD - e o Tetraidrocanabinol, o famoso THC. Tanto o CBD quanto o THC têm efeito psicoativo, ou seja, ambos têm atuação em receptores cerebrais. O café, que é uma outra planta muito comum no Brasil e no mundo, também tem efeito psicoativo.

Jimmy Fardin

A questão é o estigma que é atribuído ao THC, principalmente, porque o canabinoide tem uma ligação maior com os receptores cerebrais podendo gerar efeitos como sonolência, euforia, aumento do apetite, tontura e lapso de memória recente. Quanto à possibilidade de alucinação, isso irá depender da dose administrada. Se a pessoa fuma a erva acontece a reação química de descarboxilização do THC, logo ele irá ingerir uma quantidade muito além da dose recomendada, dependendo do caso. Nessas situações, podem surgir efeitos colaterais como sedação, sonolência, adinamia, e a clássica imagem de usuário atribuída a quem usa.

Entenda a polêmica:

Deputada se posiciona contra a liberação da maconha para fins medicinais; veja a opinião de especialistas

A deputada federal Silvia Waiãpi, do Partido Liberal do Amapá, afirmou que está atuando no Congresso Nacional para que a maconha não seja liberada para fins medicinais no Brasil.

“Nós sabemos que o discurso de liberação da maconha para fins medicinais é baseado no uso de uma substância chamada canabidiol. Porém, a maconha é considerada ilícita por conta do THC, que é o alucinógeno que também faz parte da cannabis sativa”, disse.

O uso medicinal da cannabis

O uso medicinal é exatamente o cuidado com a dosagem e acompanhamento do paciente para que ele tome a quantidade adequada para o tratamento de uma determinada patologia. Qualquer substância em demasia irá causar efeitos deletérios no corpo como o café, o álcool e até a água. Por isso, a regulamentação é importante para haver o controle do fornecimento de produtos com qualidade e quantidade adequadas.

Pesquisas não faltam para comprovar os efeitos benéficos do CBD e do THC para o tratamento de diversas patologias. A questão? É o paciente ter a segurança de ser acompanhado por um profissional habilitado e com experiência na prescrição da medicina endocanabinoide para assegurar a indicação do produto adequado com todo o respaldo de qualidade, dosagem e quantidade

Os canabinoides não são exclusivos da Cannabis Sativa

Existem outras espécies que também possuem os canabinoides como o cacau e a trema africana. Porém, não há nessas espécies a quantidade adequada de canabinoides com efeito medicinal para o ser humano.

Os estudos iniciais com animais, inclusive, apresentam efeitos de intoxicação pelo uso da Trema na tentativa de atingir as doses de CBD que a cannabis fornece.

Por isso, é importante desenvolver estudos sim, com canabinoides tanto na Cannabis sativa, quanto em outras plantas, pois já é sabido que o sistema endocanabinoide interage muito bem com os fitocanabinoides. Para isso, é preciso parar de fertilizar o preconceito e a informação errônea sem embasamento.