A cannabis do governo e a cannabis comercial: um abismo entre pesquisa e realidade

Até 2022, pesquisadores nos EUA enfrentavam limitações ao estudar cannabis fornecida por uma única fazenda federal, muito diferente da usada pela população

Publicada em 26/11/2024

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Imagem: Canva

Por décadas, a cannabis usada em pesquisas nos Estados Unidos não refletia a planta consumida pela população. "A disparidade era evidente pois, enquanto consumidores tinham acesso a flores resinadas e ricas em THC, os pesquisadores trabalhavam com materiais de qualidade muito inferior, fornecidos exclusivamente por uma fazenda federal no Mississipi desde 1968", afirma o médico e pesquisador Dr. Wilson Lessa, que possui amplo conhecimento sobre a terapia canabinoide.

Essa diferença não era apenas estética, explica o especialista. "Os produtos fornecidos para pesquisa eram, morfologicamente, muito inferiores. Isso pode prejudicar a qualidade dos estudos, já que a cannabis é uma planta multifacetada."

A fazenda federal, que manteve exclusividade no fornecimento de cannabis por mais de 50 anos, entregava um produto frequentemente descrito como seco, de baixa potência e com níveis inconsistentes de compostos ativos, como THC e CBD. Essa limitação impactava negativamente as pesquisas, dificultando a extrapolação de resultados para o uso real da planta consumida por milhões de americanos.

 

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A exclusividade desse fornecimento chegou ao fim em 2022, quando o governo dos EUA começou a permitir que outros cultivadores, com padrões mais próximos da cannabis comercial, contribuíssem para estudos científicos. Essa mudança marcou um avanço significativo para ciência canabinoide, possibilitando pesquisas mais relevantes e alinhadas à realidade do consumo.

A lacuna entre a cannabis de pesquisa e a cannabis comercial não é apenas uma questão técnica, mas uma reflexão do quanto a regulamentação atrasou os avanços científicos. "A qualidade do material é fundamental para compreender todo o potencial da planta, seja para identificar riscos ou benefícios terapêuticos," conclui Lessa.

A mudança regulatória pós-2022 representa um passo importante, mas também destaca o atraso acumulado. Somente com materiais de qualidade equivalente à cannabis comercial será possível explorar verdadeiramente o potencial terapêutico e científico dessa planta tão complexa.