Colômbia exporta R$60,5 Milhões em 2023; análise cuidadosa dos números é necessária

Sub-registros de exportações podem causar discrepâncias nas informações, alerta diretora do Observatorio Colombiano de la Industria del Cannabis

Publicada em 13/08/2024

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Imagem: vecteezy

Em 2023, a Colômbia exportou US$10,8 milhões (R$60,5 milhões) em produtos à base de cannabis. Desse total, US$3,4 milhões (R$19 milhões), o equivalente a 32%, foi destinado ao Brasil, conforme informações da ProColombia e divulgadas pela BBC News Brasil. A Austrália (25%) e a Alemanha (14%) completam o top 3 dos principais consumidores dos produtos colombianos.

De acordo com Mónica Hoyos, diretora do Observatorio Colombiano de la Industria del Cannabis, que conduziu a rota de internacionalização da cannabis medicinal para empresas da Câmara de Comércio de Bogotá no ano passado: Brasil, Austrália, Peru e Alemanha apresentam melhores condições para as exportações colombianas de cannabis medicinal, dados que corroboram com as informações fornecidas pela ProColombia.

No entanto, Hoyos alerta que os números devem ser analisados com cautela devido à possível existência de sub-registros de exportação. “Do que pudemos analisar, os sub-registros podem ocorrer por questões de classificação tarifária e modalidades de exportação. Essa situação, por exemplo, chamou a atenção de entidades como a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), que reconheceu as discrepâncias nos dados de exportação de cânhamo de sua base de dados (Comtrade) e os dados das alfândegas nacionais”, comenta a diretora.

Desafios da Indústria Colombiana

A indústria de cannabis legal na Colômbia enfrenta desafios como dificuldade de acesso a créditos bancários ou outras formas de financiamento, ausência de regulamentação sobre o uso de canabinoides em alimentos e bebidas, estigmatização e falta de pedagogia sobre a planta de cannabis, além das características do mercado interno. Esses pontos, segundo Hoyos, dificultam o crescimento da produção no país.

A diretora destaca que os empresários do setor são fundamentais para o desenvolvimento do cenário canábico colombiano. “Eles nos permitem falar com orgulho sobre os números de exportação para o Brasil. Apesar dos desafios, os empresários conseguiram aproveitar a regulamentação favorável do país vizinho”, afirma.

Segundo Hoyos, o know-how e os altos padrões de qualidade, capazes de atender às necessidades dos usuários brasileiros, “protegem” as empresas colombianas de possíveis mudanças na regulamentação do Brasil.

“Não acredito que uma mudança na regulamentação do Brasil diminua as exportações de cannabis medicinal da Colômbia, pelo menos não a curto ou médio prazo. De qualquer forma, a indústria de cannabis medicinal na Colômbia tem em seu horizonte a internacionalização de seus negócios, com operações na Europa, Oceania e outros países da região”, destaca Hoyos.

O que Pode e o que Não Pode?

Em 2015, a Colômbia regulamentou a emissão de licenças para a produção e comercialização de cannabis para fins medicinais. Conforme o último levantamento do Ministério da Justiça e do Direito da Colômbia, já foram emitidas mais de 3 mil licenças para cultivo e produção de cannabis no país, com uma estimativa de pelo menos 864 hectares de cannabis legalizada plantada.

No país, é permitido cultivar, comercializar e exportar a planta para fins medicinais e científicos; fabricar e exportar produtos à base de maconha para uso terapêutico; e produzir, exportar e consumir óleo de CBD.

Além disso, os colombianos podem cultivar até 20 plantas de cannabis para consumo próprio, compartilhar maconha sem intenção de lucro com pessoas de seu círculo pessoal, e portar ou possuir até 20g de maconha para uso pessoal.

Atualmente, o uso adulto da cannabis não é permitido na Colômbia. Um projeto para regulamentar esse mercado será submetido a oito debates no Congresso. A proposta visa eliminar a proibição da posse, consumo e comercialização de cannabis e seus derivados para maiores de 18 anos, presente no artigo 49 da Constituição.

“É urgente dinamizar a indústria de cannabis na Colômbia e explorar o potencial do mercado local, pois a maioria das empresas está apostando em mercados internacionais. Provavelmente, com a legalização do uso adulto, o mercado e os usuários serão mais visibilizados”, conclui Hoyos.