Inédito: Conferência Nacional de Saúde debate o uso medicinal e social da cannabis

O espaço, realizado em Brasília, abriu discussão para mais de 600 propostas do uso medicinal da planta

Publicada em 08/07/2023

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A cannabis medicinal ganhou destaque inédito na 17ª Conferência Nacional em Saúde (CNS), realizada, em Brasília. O evento abordou o tema “Garantir direitos, defender o SUS, a vida e a democracia – amanhã vai ser outro dia!”. A conferência, que teve como objetivo discutir e aprovar políticas públicas que moldarão o Sistema Único de Saúde (SUS) nos próximos quatro anos, pela primeira vez, abriu espaço para a discussão de mais de 600 propostas do uso medicinal da cannabis.

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Durante o evento, especialistas, profissionais de saúde e representantes da sociedade civil discutiram as possibilidades terapêuticas da planta.

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Segundo o médico do esporte Jimmy Fardin, a discussão sobre a terapia canabinoide para diversos tratamentos médicos é cada vez mais promissora.

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“Eu acho muito importante essa abordagem na CNS. É um grande avanço para medicina brasileira do século 21, discutir essa ferramenta terapêutica, que é a cannabis medicinal, principalmente, no SUS, já que existem muitos pacientes que enfrentam dificuldade para ter acesso a esse tipo de medicação. Se você consegue garantir esse direito ao paciente de ter acesso a essa alternativa terapêutica por médicos qualificados, eu acho ótimo”, disse.

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A cannabis possui compostos químicos, como o CBD e o THC, que demonstram potencial terapêutico no alívio de sintomas de diversas condições, incluindo dores crônicas, epilepsia refratária e efeitos colaterais da quimioterapia.

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Jimmy também reforçou a importância de levar o conhecimento e as técnicas de prescrição da cannabis medicinal para os profissionais da saúde.

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“É importante essa discussão para não ficar um trabalho pela metade. Além do acesso aos pacientes, é importante observar a qualificação do médico que irá prescrever essa terapia para saber ao certo qual tipo de canabinoide usar para cada patologia. Além disso, essa discussão é importante para desmistificar o preconceito em relação à planta”, concluiu.

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Por isso, muitas famílias esperam pelos avanços de políticas públicas para que pacientes possam ter acesso seguro e regulamentado à cannabis medicinal por meio do SUS.

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Conferência Nacional de Saúde sobre o uso medicinal e social da cannabis

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Angela Aboin, mãe e paciente cultivadora desde 2016, está desempenhando um papel importante na luta pela acesso à cannabis medicinal. Além de ser diretora da organização “Mãesconhas”, ela também está à frente da Federação (FACT), e acredita que o uso medicinal da planta pode trazer muitos benefícios para saúde.

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“Eu entendo que a revolução canabinoide é um marco na saúde coletiva não só no Brasil, mas no mundo. E ter essa medicina terapêutica disponível no SUS é uma garantia de acesso à saúde para muitas pessoas em diferentes prologais e condições com melhores perspectivas de vidas e um futuro transformador. É algo que não tem precedentes e eu comparo ao surgimento dos antibióticos que é um marco na medicina. Eu vejo a cannabis medicinal com essa mesma importância”, definiu.

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No evento, estiveram presentes diversas entidades, como Federação das Associações de Cannabis Terapêutica (FACT), Mãesconhas, Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis Sativa (SBEC), Rede Brasileira de Redução de Danos e Direitos Humanos (Reduc), Plataforma Brasileira de Política de Drogas (PBPD) e Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT).

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A discussão sobre a utilização terapêutica da cannabis na CNS reflete a crescente relevância do tema na saúde pública, impulsionando o debate sobre a regulamentação e ampliando o acesso a tratamentos alternativos.

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A introdução do tema é um marco para futuras políticas públicas que considerem o potencial medicinal da planta, beneficiando pacientes e profissionais da área da saúde.

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O evento em Brasília

A 17ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), realizada esta semana, reuniu aproximadamente 6 mil participantes com o objetivo de discutir, aprovar e deliberar propostas que serão incorporadas no próximo ciclo de planejamento da União. Essas propostas também servirão como base para a elaboração do Plano Nacional de Saúde e do Plano Plurianual de 2024-2027.

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As etapas preparatórias para a CNS tiveram início em 2021 e envolveram a organização de diversos eventos, como seminários, fóruns sociais, congressos, encontros regionais, plenárias populares, conferências temáticas, municipais, estaduais e do Distrito Federal. Ao longo desse período, estima-se que cerca de dois milhões de pessoas participaram dessas atividades, consolidando esse processo como um dos maiores exemplos de democracia e participação popular no país.

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“Trata-se de uma grande construção coletiva. Quem chega na conferência nacional são pessoas eleitas delegadas nos diversos espaços de possibilidades de opinarem e debaterem propostas. E, não são só pessoas, elas vêm representar propostas e diretrizes que foram aprovadas nas conferências, sejam municipais, estaduais ou nas conferências livres. Somos resistência e esperança por um SUS público, igualitário e para todas as pessoas”, afirma Fernando Pigatto, presidente do Conselho Nacional de Saúde.