Especialistas alertam para risco de erro regulatório no Brasil após mudança na lei de THC dos EUA

Fim da paralisação da Farm Bill no EUA expõe a fragilidade do Brasil pela falta de plantio e pela ausência de autonomia produtiva para garantir a autossuficiência

Publicada em 02/12/2025

Especialistas alertam para risco de erro regulatório no Brasil após mudança na lei de THC dos EUA

Debatedores do Sechat News analisam os impactos da nova lei de THC dos EUA para o mercado brasileiro | Reprodução: YouTube Sechat


A recente mudança na legislação norte-americana sobre limites de THC total em produtos de cânhamo reacendeu o debate sobre a estrutura regulatória brasileira. No programa Sechat News, Corina Silva, CEO da USA Hemp Pharmaceuticals, Dr. Wilson Lessa, psiquiatra e vice-presidente da AMBICANN, e Luna Vargas, antropóloga e educadora, analisaram as possíveis consequências para o Brasil.

 

Indústria terá de se adaptar e elevar padrão de qualidade

 

Corina Silva avaliou que a alteração na lei norte-americana já era esperada e afirma que o novo cenário obrigará as empresas a elevar seus padrões de operação.

"A mudança na lei norte-americana era esperada e vai forçar a indústria a se adaptar, elevando os padrões de qualidade. Isso é positivo, porque apenas os players sérios, que já trabalham com rigor, conseguirão sobreviver nesse novo mercado."
 

Segundo ela, o movimento também traduz disputas de mercado envolvendo grandes grupos econômicos.

"A regulamentação mais rígida é um movimento da indústria farmacêutica para ganhar controle e criar patentes. Mas o dinheiro move o mercado, e os estados americanos não vão aceitar leis muito restritivas, porque o setor de cannabis é uma grande fonte de arrecadação de impostos."
 

 

Fitocomplexo e redução científica são pontos de atenção

 

O psiquiatra Dr. Wilson Lessa alertou para o risco de o Brasil adotar uma visão restritiva sobre a planta, limitando-se a moléculas isoladas como CBD e THC.

"Essa planta é um baú do tesouro farmacológico. Se a gente ficar se detendo só em CBD e THC, a gente vai perder os outros canabinoides, que são 150."

Ele também criticou a abordagem reducionista no debate público e regulatório.

"Eu vejo uma desonestidade intelectual no sentido de a gente não dar o devido valor à planta. Não podemos ser reféns de uma visão simplista."

 

Lessa também destacou dois efeitos positivos imediatos da mudança nos EUA para o contexto brasileiro, enfatizando a segurança dos pacientes e a movimentação do setor nacional.

"No final das contas, isso que aconteceu agora há poucas semanas atrás nos Estados Unidos, que já era esperado, mas não sabia quando ia acontecer, para o Brasil, para o público brasileiro, ele tem dois aspectos positivos já a priori, que é a questão de que essa régua aumentada vai facilitar para que a gente tenha produtos de melhor qualidade entrando aqui (no Brasil). Porque, como a Luna falou e como a Corina sabe, infelizmente, vai depender da regulamentação dos estados e quando se entra aqui, a Anvisa pela característica da RDC 660, ela não analisa nenhum desses óleos e não é para fazer isso mesmo, é assim que foi o pacto da 660. Mas melhorando a régua nos Estados Unidos, isso já facilita porque melhora a segurança dos pacientes aqui no Brasil. om certeza é uma primeira coisa e a segunda coisa que a gente também parece que concorda é que isso está suscitando o mercado brasileiro a falar... Eu acho que esses são pontos positivos que está sacudindo a coisa."

Brasil pode repetir erros de EUA e Europa, diz antropóloga

 

A antropóloga Luna Vargas afirmou que o país corre o risco de replicar equívocos cometidos por mercados mais antigos ao não separar devidamente o cânhamo industrial da cannabis medicinal.

"A gente vai fazer o mesmo erro que os Estados Unidos fez, que a Europa fez há 10 anos atrás, que é botar um limite de 0.3 [de THC] no cânhamo. É inviável."

Luna destacou que o Brasil perde competitividade ao deixar de regular o cânhamo com foco agrícola, enquanto outros países mantêm produções estruturadas há décadas.

"O Brasil está perdendo uma oportunidade histórica de gerar renda, emprego, restaurar solo. Mapa deveria regulamentar a produção de cânhamo e esquecer o componente secundário por um instante."

 

 

Assista ao debate completo:
Como a Nova Lei dos EUA Pode Redefinir o Mercado Global de Cannabis
YouTube: 

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