Novos estudos questionam a eficácia e segurança do canabidiol (CBD) para mulheres grávidas

Pesquisas em animais revelam impactos no desenvolvimento cerebral e comportamental de indivíduos expostos ao composto durante a gestação

Publicada em 28/06/2024

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Imagem: Freepik

A segurança do canabidiol (CBD) durante a gravidez está sendo seriamente questionada por novas pesquisas científicas. Apesar de ser amplamente utilizado por não causar efeitos psicoativos, o derivado da cannabis pode não ser tão inofensivo quanto se acreditava, especialmente para mulheres grávidas. Estudos recentes apontam que a exposição ao composto durante a gestação pode ter implicações adversas significativas para o desenvolvimento cerebral e comportamental de descendentes.

Investigação científica e descobertas

 

Os estudos, conduzidos pela Dra. Daniela Lezzi e a estudante de doutorado Alba Caceres Rodriguez, ambas da Universidade de Marseille, na França, foram apresentados no Fórum 2024 da Federação das Sociedades Europeias de Neurociências (FENS). A pesquisa envolveu a administração subcutânea de doses controladas de CBD (3 mg/kg) em camundongos fêmeas grávidas, do quinto ao décimo oitavo dia de gestação.

Os resultados foram reveladores. Os filhotes que foram expostos ao CBD durante a gestação apresentaram comportamentos alterados na idade adulta, incluindo maior atividade em novos ambientes e aumento dos contatos físicos entre os indivíduos. A exposição também afetou os neurônios no córtex insular (CI) do cérebro, uma área crucial para o processamento emocional e sensorial.

A Dra. Paula Dall'Stella, médica especializada em medicina integrativa com amplo conhecimento no uso medicinal da cannabis no Brasil, também expressou preocupações sobre o uso de CBD durante a gestação. Recentemente, ela afirmou que "o uso de cannabis na gravidez não é recomendado" devido à falta de evidências conclusivas sobre sua segurança e os potenciais riscos envolvidos.

 

 

Necessidade de mais pesquisas

 

Embora os estudos tenham sido conduzidos em ratos, as implicações para seres humanos são preocupantes, especialmente considerando que “o CBD pode atravessar a placenta e estar presente no leite materno”, ressalta Daniela.  

O professor Richard Roche, da Maynooth University, Irlanda, destacou a necessidade de mais investigações: “Só porque o canabidiol é legal e está disponível na maioria dos países, não significa que seja seguro para as mulheres consumirem durante a gravidez. Contudo, mais pesquisas são necessárias para ter certeza sobre os possíveis efeitos em humanos."

À luz das novas evidências, é imperativo que as mulheres grávidas sejam cautelosas ao considerar o uso de CBD. Embora os benefícios terapêuticos da cannabis e seus derivados sejam amplamente divulgados, a segurança durante a gestação ainda não está comprovada. Profissionais de saúde e pacientes devem basear suas decisões em evidências científicas robustas e atualizadas para garantir a segurança materna e fetal. 

Referências: 

 

PS03-27AM-619. “A influência da exposição pré-natal ao CBD na dinâmica de grupo e nos comportamentos sociais na prole adulta”, Sra. Alba Caceres Rodriguez, Sessão de pôsteres 03 – Resumos de última hora, quinta-feira, 27 de junho, 09h30-13h00, Área de pôsteres: https://fens2024.abstractserver.com/program/#/details/presentations/4793 .

PS03-27AM-602. “Compreendendo as consequências da exposição pré-natal ao CBD nos neurônios do córtex insular: alterações específicas do sexo e a perda da diferenciação funcional sub-regional”, Dra. Daniela Iezzi, Sessão de pôsteres 03 – Resumos de última hora, quinta-feira, 27 de junho, 09h30-13h00, Área de pôsteres: https://fens2024.abstractserver.com/program/#/details/presentations/4842

Bhatia D, Battula S, Mikulich-Gilbertson S, Sakai J, Hammond D, “Uso de produto somente com canabidiol na gravidez nos Estados Unidos e Canadá: resultados do estudo internacional de política de cannabis”. Obsteto Ginecol . 9 de maio de 2024. doi: 10.1097/AOG.000000000005603 .

Lezzi et al., “A exposição in utero ao canabidiol perturba comportamentos selecionados no início da vida de uma maneira específica do sexo”. Psiquiatria Transl . 5 de dezembro de 2022;12(1):501. doi: 10.1038/s41398-022-02271-8