Pioneirismo no mercado de cannabis: regulamentação, desafios e oportunidades no Uruguai
Relatório da agência Uruguai XXI revela detalhes sobre o ecossistema produtivo da cannabis no país, destacando vantagens e avanços do setor, além de desafios e oportunidades para o mercado
Publicada em 30/12/2024
Imagem: Canva Pro
Desde a legalização abrangente da cannabis em 2013, o Uruguai se consolidou como um líder global na regulamentação do uso adulto, medicinal e industrial da planta. Essa estrutura legal inovadora impulsionou o desenvolvimento de um ecossistema produtivo dinâmico, atraindo investimentos e abrindo portas para o mercado internacional.
Supervisionando o cultivo, produção, distribuição e venda de cannabis no país, o Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (IRCCA) atua como órgão central no Setor. A agência Uruguai XXI divulgou recentemente um relatório com dados importantes sobre o setor, destacando o crescimento e as perspectivas para 2025, confira abaixo:
Ecossistema produtivo
O setor de cannabis no Uruguai é composto por mais de 100 empresas, que empregam diretamente 756 pessoas, das quais 77% estão localizadas no interior do país. O foco principal dos negócios é a exportação, com 28 empresas exportando produtos em 2023. As exportações de derivados da cannabis somaram US$ 3 milhões, com as flores para uso medicinal representando 51% desses montantes.
Vantagens competitivas
O relatório destaca como vantagens competitivas do Uruguai, a confiabilidade e a estabilidade política e social do país, que oferecem um ambiente favorável para investimentos. O quadro regulatório inovador e o fácil acesso aos tomadores de decisão também são relatados como pontos fortes, permitindo a criação de políticas que favorecem o crescimento do setor.
Outras vantagens incluem uma trajetória industrial sólida, a sustentabilidade dos recursos naturais e a vocação exportadora do Uruguai, que exporta produtos de cannabis desde 2018. Entre os itens exportados estão sementes, grãos, biomassa de cânhamo para extração, flores para uso medicinal e ingredientes farmacêuticos ativos.
Produção e estoques
Em 2023, o Uruguai produziu 28,6 toneladas de cannabis medicinal, com foco em produtos não psicoativos. Até março de 2024, havia um estoque de 46,5 toneladas, principalmente de flores não psicoativas. O mercado local de medicamentos à base de cannabis é limitado, com a maioria das empresas externas para exportação. Atualmente, existem sete medicamentos à base de canabidiol (CBD) registrados no país, todos vendidos sob prescrição médica.
Pesquisa e desenvolvimento
O Uruguai tem um setor de pesquisa robusto, com 13 licenças concedidas pelo IRCCA, voltadas para o desenvolvimento de novas cultivares, otimização de processos de remoção e pesquisa genética. Além disso, há 11 variedades de cannabis sativa registradas no Instituto Nacional de Sementes (INASE), sendo seis de cânhamo e cinco de cannabis psicoativa.
Cânhamo industrial
O cultivo de cânhamo industrial está autorizado pelo Ministério do Gado, Agricultura e Pesca (MGAP). Em 2023, havia 35 empresas autorizadas a cultivar 335 hectares ao ar livre e 43.000 m² em estufas. Canelones é o principal centro de cultivo de cânhamo, com 37% das empresas localizadas lá, e concentra também a maior área de cultivo em estufas.
A produção de flores, grãos e sementes de cânhamo é destinada à exportação e ao uso nas indústrias cosmética, medicinal e alimentícia. Porém, a industrialização do grão de cânhamo no país ainda está em fase inicial e equipamentos em um único departamento.
Uso adulto
O Uruguai permite a compra de cannabis para uso adulto em farmácias, clubes canábicos e por meio de cultivo doméstico. O consumo anual de cannabis para esse fim é estimado entre 44 e 50 toneladas, com cerca de 250.000 consumidores. Aproximadamente 36% deles acessaram o mercado regulamentado. Em 2023, o número de clubes canábicos registrados cresceu 28%, totalizando 345 clubes e mais de 3.000 novos membros.
Desafios e oportunidades
O relatório ainda indica desafios e oportunidades para o setor de cannabis do Uruguai para os próximos anos, entre eles:
Expansão do mercado internacional: A indústria precisa se adaptar às regulamentações internacionais em constante mudança e explorar novos mercados para exportação;
Desenvolvimento de genética própria: Reduzir a dependência de variedades importadas e fortalecer a competitividade da indústria uruguaia;
Industrialização do cânhamo: Ampliar a produção para além das flores e explorar o potencial do cânhamo em indústrias como a alimentação e a construção;
Combate ao mercado ilícito: Fortalecer as medidas de controle para garantir a integridade do mercado regulamentado.