Pesquisadores prometem livro sobre a cannabis para segundo semestre de 2024

A iniciativa é uma forma de trazer o debate público da cannabis em geral através da educação

Publicada em 12/02/2024

capa
Compartilhe:

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) se juntam na produção de um livro para o segundo semestre deste ano que vai ser destinado para o público, desde acadêmicos na produção de pesquisas aos leigos no assunto.

 

O material é fruto de um TCC que está sendo construído com apoio dos alunos e do orientador Dr. José Ronaldo dos Santos faz parte de um grupo de pesquisa com diversos cursos. O livro já está na fase de revisão, sendo finalizado e com publicação prevista para junho. 

 

Segundo Tereza Raquel, 40 anos, mestranda em ciências da saúde e integrante da pesquisa, o projeto é uma tentativa de contribuir para a disseminação de conhecimento científico. ''A decisão de transformar o nosso estudo de TCC em livro foi motivada por esse desejo de ampliar o alcance e a criação de um novo sistema de pesquisa de descobertas para fornecer uma fonte a todos os pesquisadores interessados no assunto e ao público.''

WhatsApp Image 2024-02-15 at 12.23.20 (2).jpeg
Tereza Raquel - Mestranda em Ciências da Saúde

O TCC está no curso de pós-graduação em Neurociências da Unifesp e os integrantes trouxeram de bagagem suas experiências para relacionar com o tema, como o ensino, ansiedade, transtorno de autismo e até o sono. Tereza comenta que isso era um sonho e foi bem recebido pelo grupo na escolha do tema. 

''A ideia foi bem recebida pelo grupo, pela equipe, e a gente começou a desenvolver as pesquisas, dividimos e cada pessoa pegou um tópico e ficaram naquilo que já são especializados'', disse.

 

O livro tem a participação de Cidinha Carvalho, presidente da ONG Cultive, depoimentos de pessoas em tratamento e traz a função das associações no país que segundo os pesquisadores, é um ponto muito forte, tanto na disseminação da cannabis, quanto na acessibilidade ao medicamento. Conforme o grupo, os dados são baseados em evidências sólidas, sendo compreensível e atualizado com os desenvolvimentos atuais na pesquisa e na legislação.

WhatsApp Image 2024-02-15 at 12.23.20 (1).jpeg
Elenice Andrade - Psicopedagoga

Outros pesquisadores também se interessaram pelo tema, como Lígia Venute, de 41 anos, pedagoga da Unifesp, que comentou sobre a falta de disseminação de estudos na área. ''Nós estamos nos unindo, tanto da área acadêmica, quanto da área da saúde, para poder disseminar algo escasso. Eu estou por dentro, vejo alguns livros, mas eles não são tão divulgados. Então, o papel da disseminação é muito importante.''

 

''O paciente tem aquele interesse, a curiosidade, sabe um pouquinho por alto, mas tem um receio por conta do preconceito, o estigma, tem o receio até de ir no médico pedir, perguntar e falar sobre o assunto. Acho que a base mesmo é a educação e a disseminação da informação'', afirmou. 

 

Servindo de exemplo, na prática, Elenice Andrade, sendo psicopedagoga especialista em autismo, trouxe suas experiências para o livro. ''Acompanho casos de autismo na clínica onde eu trabalho e já estava com esse interesse pelo assunto, por conta das crianças que vejo na clínica. Então, na minha contribuição decidir falar em autismo, porque é um assunto com muito preconceito, principalmente, se pontuar em dar cannabis medicinal para uma criança''. 

 

Benefícios dos dados científicos 

 

No cenário da pesquisa, o contexto histórico de pré-julgamento foi um ponto analisado pelo grupo e como isso continua como uma barreira para um maior conhecimento da planta.

WhatsApp Image 2024-02-15 at 12.23.20.jpeg
Lígia Venute - Educadora Infantil

''Ainda existem muitas propagandas que demonizam praticamente a cannabis e criminaliza, por exemplo, a pessoa se tornar violenta ou até o termo ''maconheiro''. É triste você começar a explicar e as pessoas não escutarem por ignorância e associar a apologia às drogas, com a educação podemos tocar nessa lacuna'', disse Lígia Venute. 

 

Com o livro, Tereza afirma que vai poder trazer o tema nas universidades e ajudar bastante os interesses da área da saúde em ter fundamento científico e quebrar tabus de dois anos, cinco anos atrás, onde havia o medo de prescrever e ter represália. 

 

Para Lígia, quanto mais conhecimento, melhor para as pessoas entenderem. ''Está acontecendo um trabalho muito lindo dessas pessoas nas comunidades, que vêm depoimentos e seus resultados, isso está fortalecendo. Pois quanto mais pesquisas científicas pudermos comprovar, menos coisas vamos precisar defender.''

 

Além disso, como um efeito esperado para o lançamento do livro, o grupo diz que a desinformação com produtos de cannabis pode ser combatida.  

 

''Existe muita procura das pessoas e ao quererem ter acesso, pode ocorrer conflito de interesses, pois algumas pessoas entram na onda medicinal com uso recreativo e acaba prejudicando os pacientes com produtos sem qualidade e sem os efeitos esperados, difamando a causa e a seriedade das pesquisas'', disseram.