Portugal expande exportação e uso de cannabis medicinal em hospitais públicos

Janeiro e novembro de 2024, o consumo hospitalar atingiu 950 unidades, já as farmácias registraram um aumento, com 1.549 embalagens de produtos à base de cannabis

Publicada em 07/03/2025

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Imagem: Canva Pro

Seis anos após a regulamentação da cannabis para fins medicinais em Portugal, o uso dessas substâncias nos hospitais públicos continua a crescer, assim como a exportação de produtos derivados da planta.

Entre janeiro e novembro de 2024, o consumo hospitalar atingiu 950 unidades, um aumento significativo em relação às 707 unidades de 2023 e às 524 de 2022. As farmácias também registraram um aumento, com 1.549 embalagens de produtos à base de cannabis medicinal, reforçando a tendência de crescimento contínuo.


Crescimento no uso hospitalar


Dados do Infarmed divulgados pelo Jornal de Notícias mostram que 515 das unidades consumidas nos hospitais públicos continham canabidiol (CBD) como substância ativa, enquanto 435 combinavam CBD e tetrahidrocanabinol (THC).

A cannabis medicinal é prescrita no país apenas quando tratamentos convencionais não produzem os efeitos desejados ou causam reações adversas. Entre as condições tratadas estão náuseas e vômitos causados ​​por quimioterapia ou radioterapia, dor crônica associada a doenças oncológicas ou do sistema nervoso, e epilepsia.

Atualmente, Portugal conta com 37 entidades autorizadas a cultivar cannabis medicinal. A Tilray, empresa canadense, é um dos principais produtores, com três produtos aprovados no país - duas soluções orais e uma flor seca para inalação.


Exportação em alta

 

Portugal exportou mais de 18 mil quilos de cannabis medicinal entre janeiro e novembro de 2024. Cerca de 46% desse volume foi destinado à Alemanha, onde recentes mudanças na legislação facilitaram o acesso dos pacientes a esses produtos.

De acordo com Nuno Mendonça, diretor da Curaleaf International, as exportações de cannabis medicinal aumentaram de 709 quilos em 2019 para mais de 25 toneladas em 2024. Ele acredita que países como França e Ucrânia podem seguir o exemplo da Alemanha e expandir o uso terapêutico da cannabis, impulsionando ainda mais o mercado. 


Dificuldades de acesso


Embora o setor tenha crescido, a falta de participação nas restrições de cannabis medicinal continua a ser um grande obstáculo. Carla Dias, presidente do Observatório Português de Cannabis Medicinal, alerta que muitas pessoas não conseguem continuar o tratamento devido aos altos custos.

Por exemplo, uma flor seca para aliviar a espasticidade associada à esclerose múltipla pode custar até 300 euros por mês. Lara Silva, mãe de Sofia, uma menina de seis anos com encefalopatia epiléptica, gasta cerca de 150 euros a cada 35 dias e recorre à reciclagem de tampas, papel e plástico para ajudar a cobrir os custos.


Alternativas e expectativas para o futuro


A dificuldade de acesso leva alguns pacientes a buscar alternativas, como comprar produtos estrangeiros pela Internet ou praticar o auto cultivo.

Portugal tem atualmente dois medicamentos à base de cannabis aprovados: o Sativex, com participação de 37%, e o Epidyolex, disponível apenas em farmácias hospitalares. Já a privacidade da cannabis medicinal não tem nenhum apoio estatal.