Pesquisadora afirma que é possível tornar método de extração da cannabis mais seguro, preciso e confiável

O primeiro estudo está sendo realizado em parceria com uma associação de Santa Maria no Rio Grande do Sul

Publicada em 08/09/2023

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Preocupada com a composição dos óleos à base de cannabis, a farmacêutica Jéssica da Silva Dias decidiu realizar o Estudo da Composição Química de Extratos e Fitoterápicos Envolvendo Variações Genéticas da Família Cannabaceae. A pesquisa teve início no dia 12 de julho e os testes são realizados no Departamento de Química da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Segundo a pesquisadora, o que já se sabe: é possível tornar o método de extração da planta mais seguro, preciso e confiável. 

  • Estudo busca melhorar o controle de qualidade na extração da Cannabis sativa e quantificar a quantidade de canabinoides presentes em cada frasco de óleo.

Jéssica da Silva Dias realiza estudo na UFSM. Imagem: Arquivo/ ASCAMED

Jéssica é orientada pelo professor de química, Marcelo Barcellos da Rosa, e tem o apoio do Departamento de Química da UFSM. As três variedades de flores Easy Sativa, Purple Dream e CBD Mazar e algumas amostras são disponibilizados pela Associação Cannábica Medicinal (ASCAMED) para a realização do estudo.

Parceria com associação viabiliza pesquisa

Segundo a pesquisadora, a ideia nunca foi realizar o mestrado com a planta, mas após conhecer o trabalho da ASCAMED decidiu encarar o desafio. “A cannabis tem um grande potencial terapêutico e precisa ser muito explorado. Nunca imaginei trabalhar com a planta, mas o benefício e a melhora na qualidade de vida das pessoas me fizeram querer estudar esta planta”, relata Jéssica.

Junto à fascinação pela planta, a pesquisadora possui uma grande preocupação com o seu uso medicinal e contínuo. Para ela, é de suma importância que o paciente identifique no rótulo a composição exata do óleo presente no frasco.

“Este estudo produzido na UFSM vai auxiliar diretamente o trabalho de análise e controle de qualidade dos medicamentos da ASCAMED. Teremos um processo de extração mais preciso e confiável”, comenta a diretora social da associação, Júlia Silvester. 

Imagem: Arquivo/ ASCAMED

Fase de análise da pesquisa

Em fase inicial, a pesquisa está analisando os componentes presentes na flor de maconha. Primeiro, Jéssica faz a secagem, a trituração e a peneiração da cannabis, deixando a plana em “farelos”, que são colocados em um frasco junto ao solvente (metanol ou etanol) e induzidos a um processo de ultrassom.

Segundo Jéssica, a equipe está em busca de um solvente com melhor capacidade para extrair a maior concentração possível de substâncias da cannabis (THC e CBD). A partir desta descoberta será possível gerar um controle de qualidade dos óleos de cannabis, quantificando a porcentagem exata de canabinóides presentes em cada frasco do óleo.  

Vale ressaltar que a cannabis não é uma planta classificada pelo Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado (SisGen), ficando em uma espécie de “limbo” jurídico. Segundo Marcelo, estão ocorrendo movimentos a fim de resguardar a universidade e seus pesquisadores.

“Todos os projetos com cannabis da UFSM já estão credenciados no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Agora, a UFSM está montando uma comissão com pesquisadores que estudam a cannabis para registar formalmente os estudos junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”, relata o professor.