Tratamento gratuito com cannabis medicinal para chilenos com câncer será apresentado no Rio

Publicada em 12/07/2019

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Primeiro país a plantar maconha na América Latina com fins terapêuticos, ainda em 2014, o Chile apresentará alguns de seus resultados durante o 2º Seminário Cannabis - Um Olhar para o Futuro, que acontece no Rio de Janeiro neste final de semana (29 e 30). No evento, será apresentada a experiência com uma comunidade de Santiago, onde 200 pacientes oncológicos receberam gratuitamente o tratamento com óleo de cannabis.

O médico Ricardo Mercado, que irá palestrar no congresso, foi quem liderou o estudo clínico desse projeto, que tratou 100 usuários do serviço público de saúde e outros 100 beneficiários da Fundação Daya, parceira do governo local. Ele conversou com o Sechat.

"Vamos mostrar como foi essa experiência no distrito de La Florida com o laboratório Knop, que é quem faz a produção desse extrato, e como estamos administrando (o produto) em pessoas com câncer. Vamos mostrar como esse extrato tem sido útil para o controle da dor e da qualidade de vida dos pacientes", adiantou o painelista.

Entre as pacientes, está Ana María Berríos, de 56 anos. Ela sofre de câncer de mama desde 2006 e foi tratada com medicação e operações em um Hospital. Depois de um longo processo de quimioterapia, ela foi uma das contempladas com o óleo de cannabis. Em entrevista à imprensa local no mês de março, a chinela disse: "o óleo fez eu me sentir melhor, meu humor aumentou e, na segunda vez, fiquei excelente".
A Universidade de Valparaíso e a Farmacopéia chilena colocaram cientistas à disposição desse projeto estudar o óleo de cannabis e o controle de qualidade, com objetivo de estabelecer parâmetros de uma produção confiável e segura, que está sendo produzido pela Knop Laboratories. O laboratório, a Fundação Daya e o governo de La Florida tocam um amplo estudo sobre a cannabis medicinal nos pacientes com tumor cancerígeno sólido.

Em setembro do ano passado, médicos brasileiros da Fundação Oswaldo Cruz conheceram o centro de saúde onde o óleo de cannabis é distribuído aos pacientes. Na ocasião, Mercado considerou uma grande oportunidade de mostrar ao grupo os avanços desses estudos: "para nós é uma honra, foi uma visita muito interessante e esperamos trabalhar juntos (com a fundação) no futuro".

Também no ano passado, o laboratório Knop passou a comercializar no país andino o Cannabiol, primeiro remédio elaborado no Chile à base de maconha para tratar dores causadas por doenças oncológicas e neurológicas. Antes, somente era permitido lá o canadense Sativex - como ainda é no Brasil, mas aqui o medicamento se chama Mevatyl. O preço dele nas farmácias chilenas é de 75 dólares para um frasco de 30 ml. 

O Cannabiol foi produzido junto com a Fundação Daya. A entidade, porém, defende tanto o uso medicinal quanto o recreativo da planta. E embora o consumo particular seja permitido, a venda de maconha é crime, segundo a legislação de lá. Por isso, está em debate no congresso chileno um projeto de lei que regula o uso e cultivo pessoal de maconha. O médico Ricardo Mercado tem ressalvas quanto a liberação completa:

"Creio que ambos extremos não são bons, não tenho a posição de abrir o uso de cannabis para que todos possam cultivar em casa e usar livremente para as condições que acharem convenientes. Mas temos que avançar muito na pesquisa científica e estabelecer a real utilização do extrato de cannabis, com publicações científicas. Existem indícios de que há sim muita utilidade, como por exemplo para crianças com epilepsia refratária". 

Para Mercado, é preciso estimular esses estudos para podermos "assim abrir mais portas".

Portal Sechat cobre e participa do evento

O 2º Seminário Internacional Cannabis Medicinal: um olhar para o futuro é promovido pela Apepi, a Associação de Apoio à Pesquisa e a Pacientes de Maconha Medicinal. Neste ano, conforme a coordenadora da Apepi, Margarete Brito, o foco será a América Latina.

O Sechat fará a cobertura nos dois dias do evento através de seu site e redes sociais. Além disso, o portal participa do painel "O papel da imprensa na agenda da Cannabis medicinal", com o jornalista Andre Basbaum, que foi quem trabalhou na concepção do portal. Ele irá debater o tema junto com os jornalistas William Helal Filho (O Globo), Denis Burgierman (Nexo Jornal) e Monique Oliveira (USP).

Foto: Fundação Daya/ Arquivo Pessoal