Saiba por que uso de cannabis por idosos cresce 46% em dois anos
O uso de cannabis entre idosos cresce nos EUA, e com ele, muda também o perfil dos usuários: mulheres, casais, aposentados com boa renda, ensino superior e acesso à informação e à legalização lideram essa nova fase da longevidade.
Publicada em 13/06/2025

Por que cada vez mais idosos estão usando cannabis |
Eles já viram o mundo mudar muitas vezes. Viram as guerras e as pazes, os amores e as partidas, os vinis e os streamings. E viram também seu grupo populacional crescer, deixando de ser a menor faixa etária no país. Agora, no Brasil, as pessoas com 65 anos ou mais representam 10,9% dos brasileiros (22.169.101), segundo o Censo 2022. Já o grupo com 60 anos ou mais corresponde a 15,6% (32.113.490), ultrapassando a faixa etária entre 14 e 24 anos, que representa 14,89% da população.
Esses adultos, que nos últimos 12 anos cresceram mais de 50% em número, estão redescobrindo uma velha conhecida da natureza: uma planta com nome científico Cannabis sativa L., mas popularmente conhecida — e por muito tempo discriminada — chamada de maconha. A expressividade desse grupo também chama a atenção em uma "novo" mercado que cresce fora das nossas fronteiras.
Uma análise recém-publicada no JAMA Internal Medicine, conduzida por pesquisadores do Centro de Pesquisa sobre Uso de Drogas e HIV/HCV (CDUHR) da NYU, revelou que o uso de cannabis entre adultos mais velhos nos Estados Unidos atingiu um novo recorde: 7% dos idosos relataram ter usado a planta no último mês. Para além do dado cru, há uma transformação cultural, social e geracional em curso.
Novos tempos, novos hábitos
Em 2021, esse número era de 4,8%. No ano seguinte, subiu para 5,2%. Em 2023, o salto foi significativo: quase 46% de aumento em apenas dois anos. Se voltarmos ainda mais no tempo, entre 2006 e 2007, menos de 1% dos idosos haviam usado cannabis no ano anterior. Hoje, não apenas usam mais, mas usam com mais frequência e consciência.
“Esta é a primeira vez que conseguimos examinar o uso atual de cannabis nessa faixa etária. Antes, os dados eram muito escassos”, contou o geriatra e pesquisador Benjamin Han, da Universidade da Califórnia em San Diego, que assina o estudo como primeiro autor.
Quem são os novos usuários prateados
O perfil desses idosos também está mudando. São mulheres, homens, casais, aposentados com ensino superior, boa renda e mais acesso à informação e à legalização. Estão em estados onde o uso medicinal (e muitas vezes também recreativo) da planta é permitido. E sim, estão em busca de qualidade de vida, de alívio para dores crônicas, de mais autonomia.
Mulheres mais velhas, historicamente menos associadas ao uso da cannabis, aparecem agora com aumento expressivo no consumo. Mas os homens ainda lideram. “Há uma mudança clara nos padrões de uso, impulsionada também pela aceitação social e pela regulamentação mais favorável”, destaca Joseph Palamar, coautor do estudo.
Cannabis para idosos: a dor pede alívio
Um dos achados mais sensíveis da pesquisa diz respeito ao crescimento do uso entre idosos com doenças crônicas, como problemas cardíacos, diabetes, câncer, hipertensão e DPOC. E mais: muitos deles convivem com múltiplas condições de saúde simultâneas e a cannabis surge como uma alternativa (ou um complemento) às terapias tradicionais.
“O que vemos no consultório é o reflexo do que a ciência começa a mensurar”, diz Han. “Cada vez mais pacientes me perguntam sobre a cannabis. Mas é essencial orientá-los bem, porque o envelhecimento também torna o organismo mais sensível aos efeitos psicoativos.”
O estudo reforça a necessidade de os médicos abordarem o tema de forma aberta e informativa, reconhecendo o aumento do interesse e uso entre os mais velhos. Afinal, a decisão de um idoso em usar cannabis raramente é leviana: ela vem carregada de dor, de tentativas frustradas, de busca por conforto. E, agora, também de dados.
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Com informações de Cannabis Health.