Após se curar da depressão com cannabis, Veruska Donato trata cachorrinha com câncer terminal com a planta
A jornalista encontrou na cannabis o alívio para sua depressão e, ao ver os resultados em si mesma, decidiu oferecer o tratamento à sua cachorrinha, diagnosticada com câncer terminal — e os efeitos positivos surpreenderam a família
Publicada em 28/06/2025

Mais tempo, mais afeto: o que a bulldog Swatch ensinou sobre dor, esperança e cuidado | Foto: Arquivo Pessoal
O corpo franzino da Swatch, uma bulldog francesa branquinha, parecia gritar por socorro muito antes das palavras encontrarem espaço. A jornalista Veruska Donato, tutora do animal, percebeu o recado silencioso vindo do olhar, das costelas aparecendo sem aviso e da barriguinha inchada que não combinava com a vitalidade que sempre definiu sua filha de quatro patas.

O susto foi imediato, mas o desfecho, inesperadamente, acabou sendo um convite à reinvenção: uma vida nova, mesmo que breve, feita de mais presença e menos dor e com a cannabis medicinal como aliada.
Uma parceira para todas as estações da vida
São mais de dez anos de convivência intensa, histórias vividas em conjunto e uma relação que se entrelaça com marcos da própria existência de Veruska. “Ela é um dos últimos elos que mantenho com uma vida que criei em São Paulo”, diz a jornalista que saiu da capital paulista para voltar às origens em sua terra natal, no Mato Grosso do Sul.

Nas mudanças de cidade, nas despedidas, nas ausências da filha em intercâmbio, foi Swatch quem permaneceu. “Arrumava as malas, carregava o carro, punha a cadeirinha dela e a gente partia pra estrada. Praia, fazenda, cachoeira. Sempre juntas”, lembra a tutora com carinho.
Com a confirmação do diagnóstico de câncer agressivo e inoperável, o chão pareceu ruir. A despedida, que pairava como uma sombra, ganhou contornos reais. “Passei uma semana chorando, meio que me despedindo, embalei ela no colo, falei que podia ir se quisesse… Mas agora, ela tá tão bem que parei de desejar a morte. Hoje, eu só desejo mais vida”.
Cannabis: um sopro de esperança no meio da tempestade

A decisão de não submetê-la a tratamentos invasivos veio do amor e do respeito. A ideia era clara: nada que significasse sofrimento. “Eu disse à veterinária que não queria que ela sentisse dor. Foi aí que ela falou da cannabis. E na hora eu achei uma ótima ideia”, comenta.
O que parecia uma aposta incerta revelou-se um bálsamo. Em pouco tempo, Swatch, que tremia, não conseguia ficar de pé e rejeitava até o toque, voltou a subir nos móveis, dar pulinhos e, segundo Veruska, voltou a sorrir. “Ela tá feliz. E isso, pra mim, é o que importa”.
Veruska, que já havia pesquisado a cannabis para tratar sua própria depressão, viu na planta uma nova linguagem de cuidado. “Na minha pequena não teve quase nada de efeitos colaterais. Tenho falado para todas as pessoas que conheço. Meu marido, que era super cético, se convenceu vendo o resultado com os próprios olhos”, diz.
A vida entre os espaços de um 'possível' adeus
Mesmo diante do prognóstico delicado e das incertezas, Veruska se permite sonhar. Não com a cura, mas com a permanência. Sem saber do futuro e sobre o potencial da cannabis no tratamento da Swatch, Veruska dá o recado: “Tenho falado para todas as pessoas que conheço e aconselhado, já que não é um produto caro e é muito tranquilo de usar… Espero que essa reportagem também ajude outras pessoas a enxergarem”.
Swatch, ciumenta, sensível, amorosa e profundamente ligada à sua tutora, segue como testemunha silenciosa dos ciclos da vida. Já a cannabis, antes envolta em estigma, tornou-se símbolo de uma despedida adiada e, quem sabe, até reinventada.
“Companheira”, resume Veruska, quando questionada sobre o que a filha peluda representa em sua vida. Uma palavra só, mas que ecoa mil histórias.
