Os perigos que ninguém te conta sobre cultivar cannabis em casa, mesmo com autorização

Mesmo com habeas corpus, pacientes de cannabis medicinal enfrentam perseguição e riscos; saiba como se proteger

Publicada em 10/06/2025

Os perigos que ninguém te contou sobre cultivar cannabis em casa, mesmo com autorização

Cultivo de cannabis legalizado. Imagem: Arquivo Carolina Artez

Em 2020, durante a pandemia, a gaúcha Carolina Artez, plantou sua primeira semente de cannabis. Paciente há mais de oito anos, ela iniciava uma nova fase com a maconha - algo oficializado meses depois, com a concessão do seu Habeas Corpus.

Cheia de esperanças com o tratamento, ela viu florescer um dos períodos mais conturbados da sua vida, regado de preconceito e desinformação. A paciente que já havia passado por oito cirurgias, incluindo uma parafusagem na coluna e até a retirada de uma veia safena, teve que enfrentar os ataques dos vizinhos.  

Por causa do cheiro exalado pelo cultivo, vizinhos começaram a persegui-la com agressões verbais e difamações. Com o apoio do seu advogado, Carolina procurou a polícia ainda em 2020, relatando a violência moral e psicológica.

“Gravei ameaças, inclusive absurdos como linchamento. Registrei boletins de ocorrência. Mas por muito tempo meu tratamento seguiu sendo tratado como crime”, desabafou.

Mesmo com a legalidade do cultivo comprovada, a hostilidade persistiu. Exausta emocionalmente, Carolina decidiu sair do apartamento onde vivia — um imóvel pertencente à sua família há 60 anos, herdado dos avós paternos.

Após a mudança, os ataques continuaram. "Toda vez que eu ia até lá para buscar algo ou fazer manutenção, era alvo de insultos", contou.

 

Cinco anos depois, Carolina volta para casa

 

Em maio de 2025, Carolina voltou a viver no apartamento. “A verdade permanece: o apartamento é meu. A dor é minha. E o direito de me tratar como preciso também é”, afirma.

Embora o preconceito tenha diminuído, segundo a paciente, ainda existem manifestações de intolerância. As ameaças e perseguições seguem sob investigação, e a polícia está ciente da legalidade do cultivo no local. “Sigo fazendo minha parte, com registros, denúncias e provas. Eu não me calo.”

 

Cultivo caseiro de cannabis e os desafios da discrição

 

A história de Carolina não é um caso isolado. Segundo Danilo Coelho, fundador e CEO da Leds Indoor, muitos pacientes que cultivam cannabis medicinal em casa, especialmente em áreas urbanas, temem o preconceito e procuram alternativas para "esconder" seu cultivo.

Por isso, os produtos da sua empresa são entregues em embalagens neutras, sem marcas visíveis. "Sabemos que o estigma ainda existe e pode pesar para os pacientes”, comenta.

 

Filtros de carvão ativado são aliados no controle de odor

 

Para barrar os narizes alheios, os pacientes procuram o "filtro de carvão ativado", um dos produtos de maior saída, segundo Coelho. “Utilizamos carvão virgem 1050+ RC 48, que oferece alta absorção e performance duradoura, com vida útil de até 2 anos”, explica Danilo.

Os filtros são compatíveis com os principais exaustores do mercado e têm instalação simples. “São verdadeiros aliados para manter a paz com vizinhos e familiares.”

 

Cheiro e denúncias não justificam entrada policiais sem mandado

 

Uma dúvida comum entre pacientes é sobre abordagens policiais. De acordo com o julgamento do STF (RE 603.616/RO), cheiro de maconha ou denúncias anônimas não justificam a entrada forçada da polícia em residências sem mandado judicial ou consentimento do morador.

“A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita quando amparada em fundadas razões que indiquem flagrante delito”, destaca a tese aprovada pelo STF.

Um ponto de alerta, conforme explica Robson Freire, advogado e presidente da Associação Medical Agreste e a exposição visual das plantas. “Se o policial enxerga o cultivo a partir de fora da residência, ele pode alegar flagrante e entrar legalmente”, afirma.

Além de tirar de vista o cultivo, ele orienta pacientes com Habeas Corpus a evitarem eventos com muitas pessoas em casa, principalmente se os convidados estiverem envolvidos em investigações.

“O que eu não sugiro é que publiquem fotos das plantas ou do consumo, nem mesmo com cunho educativo. Para ensinar nas redes, é necessária autorização específica.”, continua o advogado.

 

A convivência pacífica ainda é o melhor caminho

 

Robson reforça que a melhor estratégia para evitar problemas ainda é o bom relacionamento com os vizinhos. O advogado indica conversas reservadas com funcionários, síndicos e vizinhos que deem abertura. Mas claro, em casos de preconceito, a premissa é diferente.

“Não adianta insistir no diálogo se o outro lado é intolerante. Nesses casos, a documentação e os registros são o melhor escudo legal”, continua.

 

E se a polícia bater na sua porta?

 

Caso receba uma visita policial, mantenha a calma. O primeiro passo, segundo Robson, é solicitar o mandado judicial — seja de busca e apreensão ou de prisão. “Peça identificação, nome e matrícula. Filmar toda a diligência também é fundamental.”

O advogado ressalta que, mesmo com mandado, a entrada deve ocorrer durante o dia. Segundo Robson, se a visita da polícia for no turno da noite, o paciente não é obrigado a abrir a porta.