Uso medicinal da cannabis na gestação

Muitos são os estudos sobre o uso dos derivados durante a gravidez. Mas o que realmente pode ou não se fazer nessa fase

Publicada em 23/11/2022

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Por João R. Negromonte

Estimativas apontam que a indústria da cannabis medicinal deverá gerar aproximadamente US $17 bilhões até 2025. O  montante demonstra como o tema vem evoluindo nos últimos anos.

Contudo, algumas questões que sempre fizeram parte dessa discussão foi se o uso da cannabis, popularmente chamada de maconha, poderia afetar os bebês em fase de gestação ou mesmo se o leite materno conteria a presença de canabinoides caso as mães fizessem uso da planta durante a amamentação.

É seguro consumir cannabis na gestação? 

A primeira coisa que se deve ter em mente é qual canabinoide está sendo utilizado durante esse período. O canabidiol (CBD), por exemplo, mesmo com alguns estudos sobre o tema, pode ajudar as mães com enjoos, náuseas e dores. 

Segundo a farmacêutica especialista em farmacocinética e farmacodinâmica dos canabinoides, Renata Monteiro: “Essa confusão entre qual composto utilizar é muito comum, principalmente quando traçamos um paralelo entre o uso adulto e o medicinal da cannabis”. 

A profissional explica que muitas pesquisas dizem que os derivados da cannabis podem afetar os bebês em gestação ou mesmo passar para eles pelo leite materno. Contudo, todo vertebrado possui um Sistema Endocanabinoide (SEC), ou seja, “todos nós nascemos com receptores canabinoides, a liberação dessas substâncias, que já são produzidas pelo próprio organismo, são comum”, destaca Renata. 

Ela lembra também que muitas pesquisas são tendenciosas e, em grande parte, os estudos que fazem tais afirmações analisaram mães que não faziam apenas o uso da cannabis, mas de diversas outras substâncias, como o álcool, a cocaína, metanfetaminas, além de possuírem um histórico alimentar e físico comprometidos.

Dessa forma, a especialista ressalta que há riscos em consumir alguns compostos da planta durante a gestação, como o THC que é psicoativo, fazendo-se necessário um acompanhamento médico antes de tomar a decisão de administrá-lo durante a gravidez. Entretanto, não há evidências suficientes que provem que medicamentos à base de cannabis podem trazer algum transtorno aos bebês na gestação, principalmente os isolados, que contêm somente um canabinoide, neste caso, o CBD.   

É recomendado o uso do CBD durante  a amamentação?

Esta é uma pergunta que não pode ser facilmente respondida. Vários estudos indicam que fumar maconha na fase da amamentação pode afetar o desenvolvimento neural do bebê. Certas partes do cérebro não terminam de amadurecer até aproximadamente os 25 anos de idade. Portanto, se o bebê entrar em contato com determinadas substâncias presentes na planta de cannabis, pode ter consequências a longo prazo. O mesmo pode acontecer se a mãe usar tabaco ou álcool durante a gravidez e durante a amamentação.

Por outro lado, os produtos CBD podem ajudar a aliviar alguns dos desconfortos da gravidez, mas consultar um ginecologista antes de usar o medicamento é fundamental, pois de fato, tudo o que consumir será passado para o bebê por meio do leite materno, que será sua principal fonte de alimentação. Caso você tenha consumido CBD ou maconha, é melhor esperar 24 horas para alimentar seu bebê novamente. Dessa forma, terá mais certeza de que não trará consequências indesejáveis.

Um estudo de 2006 descobriu que a cannabis foi muito útil para mais de 92% das 40 pessoas que a escolheram para tratar náuseas durante a gravidez. No entanto, também houve problemas com o desenho da pesquisa e quaisquer benefícios da cannabis para pessoas grávidas devem ser pesados ​​contra os riscos.

Como os riscos podem ser minimizados?

Como os especialistas ainda não sabem o suficiente sobre os efeitos potenciais do uso adulto da maconha durante a gravidez, seria melhor evitá-la. Não há maneiras de baixo risco para consumi-la, então,  se optar pelo uso, conhecendo os riscos, o recomendado é que teste a cannabis em laboratório e verifique se ela está livre de contaminantes, incluindo micróbios, pesticidas, solventes, aditivos e metais pesados. A maconha deve ser certificada por laboratórios conceituados quanto ao seu conteúdo de canabinóides e, para evitar danos aos pulmões fetais, é melhor vaporizar a flor do que fumar ou vaporizar concentrados. Além disso, é preciso lembrar que o THC é provavelmente responsável por muitos dos riscos associados ao uso de cannabis na gravidez. Assim, produtos com baixo teor de THC podem ser menos prejudiciais.

Renata recomenda também que, grávidas que desejam fazer uso da cannabis durante a gestação, devem procurar um médico antes de tomar quaisquer decisões. “Mesmo ciente dos riscos e benefícios que a cannabis pode trazer para a vida das pessoas, incluindo as gestantes, um médico é necessário para avaliar caso a caso, seja para o consumo adulto ou medicinal”.