<strong>Como desenvolver a indústria da cannabis no Brasil?</strong>

O que os países vizinhos nos ensinam para alavancar o mercado da cannabis no país

Publicada em 09/05/2023

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Por Thaís Castilho

“A falta de regulamentação e da criação de uma cadeia produtiva integrada afetam negativamente o desenvolvimento da indústria da cannabis”. Esses foram os principais pontos levantados por Lorenzo Rolim, engenheiro agrônomo e presidente da Associação Latino-Americana de Cânhamo Industrial, durante sua participação no 2º Congresso Brasileiro de Cannabis Medicinal, promovido pela Sechat.

Esse foi um dos debates mais esperados pelo público que acompanhou as palestras do bloco de Legislação e Negócios, nos dias  4 e 5 de maio, no Expo Center Norte, em São Paulo.

Ao analisar o histórico do Uruguai e da Colômbia, é possível avaliar que criar medidas regulatórias e integrar a cadeia produtiva da indústria é fundamental para não comprometer o desenvolvimento de uma economia, com foco em cannabis medicinal e cânhamo industrial, já que esses países apresentaram uma queda vertiginosa na atividade de seus negócios.

“O Uruguai sofreu muito com uma regulamentação ruim e com a falta de uma cadeia produtiva integrada. Muitas empresas estrangeiras fizeram um massivo investimento quando o país legalizou, mas ficaram travadas por muitos anos, sem conseguir exportar ou até mesmo produzir. O mesmo aconteceu com a Colômbia, que passou um início difícil devido às licenças que eram confusas e na criação de um mercado interno ordenado”, revela Lorenzo.

Paraguai é destaque como modelo de economia canábica

O Paraguai, que já foi considerado um dos maiores exportadores de maconha ilegal para o Brasil, assumiu o potencial de cultivador da planta e passou a regulamentar o setor para criar uma cadeia produtiva integrada.

Com um pensamento completo e organizado, o país investiu em todos os setores da economia: plantio, processamento dos produtos, criação de mercado interno e qualidade para exportação.

O que moldou esse cenário foi a criação de uma câmara setorial dentro do governo, formada por entidades que representam todos os setores: saúde, agricultura, desenvolvimento social, indústria e comércio e educação. Todos reunidos para debater os rumos dessa economia.

O grande diferencial de todo esse processo é que o governo criou um programa que estimula as empresas a inserirem na cadeia produtiva as comunidades campesinas e indígenas, que foram muito atingidas ao longo dos anos pela guerra às drogas. 

Um dos maiores exemplos de sucesso é a criação da Hemp Guarany, empresa que produz cannabis em parceria com as comunidades originárias e com certificado de exportação para diversos países no mundo.

Isso mostra a vantagem em se pensar na integração da cadeia produtiva no mesmo espaço, pois possibilita a geração de negócios, emprego, renda e desenvolvimento da economia.

“O que se espera é que esse exemplo seja seguido por outros países que desejam entrar nesta indústria, inclusive o Brasil. Que essa troca de gestão nos possibilite diálogos para aprendermos com nossos vizinhos, no que deve e no que não deve ser feito”, desabafa Lorenzo.