De paciente a médica prescritora canábica; grupo tem crescimento de 146%

Os benefícios da planta na sua vida pessoal, motivaram a Dra Natália a levar essa terapia para seus pacientesOs benefícios da planta na sua vida pessoal, motivaram a Dra Natália a levar essa terapia para seus pacientes

Publicada em 26/12/2023

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Thaís Castilho

Em 2019, Natália Gomes Candiago, médica generalista especializada em saúde da família, encontrou na cannabis o alívio para dores pélvicas crônicas. O tratamento foi indicado por uma amiga que havia passado pelos mesmos problemas que ela.

“Por conta de uma endometriose eu sentia muita dor na região pélvica, a ponto de não conseguir fazer atividade física ou mesmo ficar muito tempo em pé, como nas cirurgias que eu realizava na faculdade de medicina. Foi então que uma amiga, que já havia operado da endometriose, mas mesmo assim continuava sentindo dores, me contou que só encontrou alívio com o uso do óleo da cannabis da associação Apepi. Me passou o contato e eu comecei a usar o óleo e melhorou muito minha qualidade de vida”, recorda Natália.

Assim como foi com Natália e sua amiga, a escolha pela terapia canábica, na maioria das vezes, chega na vida das pessoas como a última opção, seja pela falta de conhecimento ou mesmo pelo preconceito, situações que impedem o acesso ao tratamento logo no início de um diagnóstico.

“No meu trabalho, por exemplo, geralmente os pacientes procuram a cannabis como última opção, quando todas as alternativas terapêuticas já falharam. Nesse contexto, como eu lido com pessoas mais idosas, elas abrem mão do preconceito para aderir ao tratamento. Mas existem pessoas que já chegam no meu consultório perguntando sobre cannabis”.

O preconceito dentro da classe médica

Não são só os pacientes que apresentam certa resistência quando o assunto é cannabis medicinal, a própria classe médica, em sua maioria, ainda desconhece esse tipo de tratamento. Além de todo o proibicionismo que existe em torno da planta, são poucas as faculdades voltadas à saúde que ensinam o sistema endocanabinoide na grade curricular.

“Quando eu decidi que iria estudar e clinicar com a terapia canabinoide eu sofri muito preconceito da classe médica da minha região, que é o Rio Grande do Sul, mas nunca perdi paciente por indicar o tratamento com cannabis”, revela Natália.

Ainda que o número de profissionais da saúde especializados em cannabis medicinal seja proporcionalmente pequeno no país, houve uma crescente de médico(a)s já habilitados como prescritores para esse tipo de tratamento.

Segundo a Agência Brasil, “O número de médicos que prescrevem produtos à base de canabidiol para compra em farmácia passou de 6,3 mil em 2021 para 15,4 mil no ano passado, aumento de 146%”.

Um dado que revela que a procura por esse tipo de tratamento vem conquistando os pacientes. Para se ter uma ideia, o relatório anual da Kaya Mind constatou que no país “cerca de 430 mil brasileiros realizam tratamentos com medicamentos à base de cannabis”. 

A falta de acessibilidade ao tratamento

Assim que passou a indicar cannabis a seus pacientes, Natália notou que aqueles que eram atendidos pelo SUS, tinham muita dificuldade de iniciar ou mesmo dar continuidade pelo alto valor dos produtos.

“As pessoas têm interesse, mas como eu trabalho mais com saúde pública e atendimentos mais populares, acaba que uma boa parte dos pacientes não têm condições financeiras de seguir com o tratamento”, desabafa a médica.

A cidade onde Natália reside, Caxias do Sul, conta com uma associação de cannabis terapêutica, mas que ainda não possui Habeas Corpus da justiça para cultivar e produzir os produtos de cannabis. 

A associação ainda não consegue atender uma grande demanda, além disso, os médicos que têm interesse na terapia cannabinoide não têm pleno conhecimento de como funciona o tratamento, tanto para prescrever como para fazer o acompanhamento. 

“São poucos os profissionais que estudam a área, a maioria prescreve seguindo as orientações dos representantes dos laboratórios e das farmacêuticas e acabam não acompanhando o paciente, neste caso, as chances das falhas terapêuticas são grandes”, pontua a médica.

Dois vereadores da cidade estão a frente dessa luta pela acessibilidade através do SUS, mas ainda assim, pelo conservadorismo vigente na região, os avanços legais são muito lentos.

“É bem difícil enfrentar o preconceito numa região tão conservadora, mas quando a gente vê a melhora do quadro clínico do paciente e a gratidão estampada no rosto por ter encontrado alívio numa situação que já havia sido dado por outros médicos como sem solução, a gente acaba entendendo de onde vem a força pra continuar nessa luta. O preconceito está espalhado na população em geral justamente pela falta de conhecimento. Por isso, informar e educar é fundamental para mudar essa realidade”, reforça Natália.


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