Idosa abandona preconceito e entra na "onda" da cannabis

Diagnosticada com artrose severa, Dona Lourdes sofria com dores intensas há 30 anos

Publicada em 13/11/2023

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Thaís Castilho

Hoje, quem vê Maria de Lourdes Fernandes, 81 anos, conhecida carinhosamente como Dona Lourdes, toda animada, caminhando pela praia, fazendo academia, trabalhando e até namorando, não imagina o histórico de dor e desânimo que ela carrega em seu passado.

Diagnosticada com artrose severa há mais de 30 anos, Dona Lourdes viu os sintomas se agravarem muito durante a pandemia, o que a fez desenvolver um quadro de depressão. Ela chegou a emagrecer 27 quilos e a passar a maior parte do tempo na cama.

“Eu estava acamada, levantava somente para fazer o necessário. Muitas dores e desânimo. Eu não podia trabalhar e isso me deixava ainda pior, pois sempre fui ativa, mesmo com as dores que eu sentia. A pandemia me abalou demais”, recorda.

O cuidado da família

Diante desse quadro, a neta Gabriela Capanero, residente de ortopedia, já conhecia os benefícios da cannabis para saúde e sugeriu que a avó experimentasse a planta para tentar trazer alívio das dores.

Dona Lourdes ao lado da neta Gabriela. | Foto: arquivo pessoal

“Na ortopedia quando temos um paciente com artrose, enquanto não tiver condições clínicas para operar, ele precisa lidar com a dor. Eu via a minha avó sofrendo muito. Eu e meu namorado sempre falavámos sobre os benefícios da cannabis, porém, ela se mostrava resistente. Sempre teve muito preconceito. Até que um dia cedeu, fez o uso e sentiu rapidamente o alívio das dores”, conta.


A importância do THC para o tratamento da dor

Dona Lourdes conta que suas primeiras experiências de uso foram através da forma inalada, ou seja, fumando a planta. Esse método de uso, principalmente com plantas ricas em THC, proporciona uma resposta mais rápida ao organismo e por isso, pode ser indicado para pessoas que sofrem com dores crônicas.


“Mesmo sendo contra fumar eu acabei experimentando, pois não aguentava mais as dores, foi então que senti a melhora e isso representou uma grande virada na minha vida”, destaca.


Mas, por não gostar muito de tragar a fumaça, ela transitou para o óleo de cannabis. A balas ou gomas de THC também fazem parte da rotina de tratamento dela.

“O THC é muito importante. As pessoas em geral têm preconceito com esse cannabinoide. Já tentamos o CBD isolado ou mesmo o óleo full spectrum com baixas doses de THC, mas eu vejo que ela responde muito bem ao THC, ou seja, ela precisa desse canabinoide. Atualmente, além do óleo, ela usa a goma com 10mg de THC. É isso que garante qualidade de vida para minha avó que a torna ativa e com bom humor”, explica Capanero.

O desmame dos medicamentos convencionais

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Gabriela é residente em ortopedia e busca ampliar o conhecimento sobre a terapia endocanabinoide. | Foto: arquivo pessoal

Além da melhora significativa na sua qualidade de vida, Dona Lourdes foi aos poucos se libertando da lista de medicamentos alopáticos que ela fazia uso há cerca de 20 anos.

“Depois que minha avó começou a fazer o tratamento com a cannabis, eu consegui tirar dela os antidepressivos e ansiolíticos de uso diário. Pois, ao contrário da cannabis, são medicamentos que trazem efeitos colaterais graves para o organismo. É mais uma vitória”, revela a neta.

O sucesso do tratamento com a cannabis despertou o interesse da família. “Hoje todo mundo da minha família é paciente de cannabis. Minha mãe, meu pai, meu namorado, minha madrasta, meu padras e até eu mesma faço uso. Por ver que minha avó ficou bem, todo mundo aderiu, seja para dormir, ansiedade, dor, são diferentes indicações, mas todo mundo está satisfeito com os resultados”, comenta.

Sistema Endocanabinoide

O que explica a eficiência do tratamento com a cannabis é a presença do SEC - Sistema Endcanabinoide no corpo humano e que tem um papel importante na modulação das funções fisiológicas e neurológicas.

Os compostos químicos da planta se conectam com esse sistema levando ao pleno funcionamento e auxiliando na regulação do organismo. Por isso, a cannabis pode ser indicada para tratar diversas condições clínicas.

Para Gabriela, uma das razões que dificulta a popularização desse tipo de tratamento é a falta de conhecimento dos profissionais da saúde sobre a existência do SEC.

“Eu sou residente de ortopedia, ou seja, caminho pela medicina há um tempo e nunca estudei sistema endocanabinoide na faculdade. Eu fiz uma pós graduação recentemente, pois entendi que esse tratamento poderia ajudar muitas pessoas. Acompanhar o uso da cannabis na minha vó comprovou essa eficiência, pois foi um divisor de águas na sua vida”, pontua Gabriela.