"As crianças menores têm um cérebro mais plástico, então a resposta é geralmente mais eficaz", diz médico sobre uso de cannabis no TEA

Estudos apontam eficácia do tratamento para crianças e adolescentes com autismo, câncer, epilepsia e outras especificidades

Publicada em 28/02/2025

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Imagem: Canva Pro

Um estudo recente publicado na National Library of Medicine investigou o uso de produtos à base de cannabis medicinal no tratamento de condições de saúde pediátrica. A pesquisa focou nos efeitos terapêuticos da cannabis em crianças e adolescentes com menos de 21 anos, abordando sua eficácia em diversas doenças.

A revisão sistemática analisou três bancos de dados eletrônicos e selecionou 10 estudos que atendiam aos critérios estabelecidos. Os estudos abordaram condições como transtorno do espectro autista (TEA), câncer, epilepsia resistente ao tratamento e síndrome de Sturge-Weber (SWS).

O TEA foi o foco principal de quatro pesquisas, com resultados positivos que indicaram melhorias significativas em medidas validadas relacionadas ao transtorno. Além disso, os estudos também trouxeram avanços para pacientes com SWS e epilepsia resistentes ao tratamento.

 

CBD e THC: efeitos positivos

 

As formulações que combinaram canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabinol (THC) foram aplicadas em quatro dos ensaios clínicos, demonstrando efeitos benéficos com poucos eventos adversos. 

Flavio Geraldes Alves, neurologista e pediatra explica que os produtos de espectro completo, especialmente na proporção de 20:1 (CBD:THC), são os mais eficazes para tratar transtornos comportamentais do TEA.

 

Tratamento para pacientes com TEA

 

Outra pesquisa, desenvolvida pela Neurotech, divulgou resultados promissores de um estudo clínico com a nova cepa de cannabis NTI164, voltada para o tratamento de pacientes pediátricos com Transtorno do Espectro Autista.

Outro estudo, publicado na Frontiers in Neuroscience em 2019, também investigou os efeitos da cannabis em crianças com TEA. Pacientes com idades entre seis e 17 anos participaram de um tratamento com extrato de cannabis de alta concentração de CBD e, após nove meses de tratamento, os pesquisadores observaram melhorias notáveis.

Distúrbios relacionados ao sono, crises convulsivas e comportamentais apresentaram melhoras significativas. Também houve avanços no desenvolvimento motor, comunicativo e de interação social.

 

Crianças respondem melhor ao tratamento

 

Segundo Flávio Alves, as crianças mais novas tendem a ter uma resposta melhor ao uso de cannabis. “As crianças menores têm um cérebro mais plástico, então a resposta é geralmente mais eficaz”, explica o especialista.

 

Abordagem interdisciplinar no tratamento de TEA

 

Flávio ressalta a importância da abordagem interdisciplinar no tratamento do TEA, envolvendo terapia, fonoaudiologia, psicologia e terapia ocupacional. “Quando você precisa medicar, vai medicar as comorbidades, e a cannabis é uma das opções”, afirma.

No Brasil, a cannabis é indicada em casos refratários. Vários de seus pacientes já realizaram o desmame dos antipsicóticos e agora utilizam apenas cannabis como tratamento, explica Alves.

 

Aplicações clínicas e potenciais terapêuticos da cannabis

 

Os estudos também destacam algumas aplicações clínicas promissórias da cannabis em pediatria, com foco nas seguintes condições:

Epilepsia Refratária: O CBD demonstrou a inflamação cerebral associada às convulsões, ajudando a melhorar o controle da doença.

Distúrbios Neuro Inflamatórios: Condições como a encefalite podem se beneficiar da ação anti-inflamatória do CBD, protegendo o tecido neural.

Doenças Autoimunes: Em doenças autoimunes pediátricas, a modulação dos inflamassomas pelo CBD pode ajudar a reduzir a resposta imunológica anômala, melhorando os sintomas e a qualidade de vida.


Segurança e acompanhamento médico

 

A segurança do tratamento é outro ponto de discussão. O Dr. Flávio destaca que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o uso de canabinoides a partir dos dois anos de idade. Ele reforça que o médico deve determinar a proporção de CBD e THC para cada faixa etária, sempre com acompanhamento médico adequado.