Avanços e desafios da cannabis no Brasil marcam o Cannabis Connection 2025
Evento em São Paulo reúne reguladores e especialistas para discutir regulamentação, cultivo e o panorama de mercado do setor
Publicada em 07/11/2025

Com o tema "O Novo Cenário da Cannabis e do Cânhamo no Brasil: Avanços, Desafios e Oportunidades", o evento reuniu reguladores, pesquisadores e analistas para debater o futuro do setor. Imagem: Bruno Vargas - Sechat
A indústria da cannabis no Brasil e na América Latina teve seu principal ponto de encontro nesta quinta-feira (6), em São Paulo, durante o Cannabis Connection 2025.
Com o tema "O Novo Cenário da Cannabis e do Cânhamo no Brasil: Avanços, Desafios e Oportunidades", o evento reuniu reguladores, pesquisadores e analistas para debater o futuro do setor.

Além de intenso networking, o evento marcou o lançamento do 5º Guia Sechat da Cannabis 2025. O e-book gratuito oferece um panorama completo da história, tendências e desafios do setor, e está disponível para download no Portal Sechat.
Anvisa detalha revisão regulatória para a cannabis no Brasil

Um dos momentos mais aguardados foi a mesa "Avanços Para a Regulamentação da Cannabis Medicinal no Brasil". Nela, João Paulo Silvério Perfeito, Gerente da Gerência de Medicamentos Específicos (GMESP) da Anvisa, detalhou o status dos produtos no país e o andamento da revisão regulatória.
Perfeito destacou os frutos da RDC 327: "Já possibilitou a autorização de mais de 50 produtos. Hoje, a gente tem 44 produtos que estão com a autorização sanitária válida. Desses produtos, temos hoje 29 a base de canabidiol e 15 de extratos vegetais", completou.
Sobre a revisão da RDC 327, que passou por consulta pública, o gerente da Anvisa trouxe atualizações. "Recebemos, então, 1476 contribuições, todas analisadas pela equipe. Fechamos uma proposta de minuto de texto, que agora está em discussão prévia com o relator". Segundo ele, a expectativa é pela aprovação ainda no ano de 2025.
A mesa contou também com a participação de Leonardo Sobral Navarro, da Comissão do Direito da Cannabis da OAB, e foi mediada pelo Dr. Pedro Pierro, diretor científico da Sechat.
Os desafios do cultivo da cannabis no Brasil

No painel "Cannabis no Brasil: Desafios e Perspectivas do Cultivo Pós-Regulamentação", Ana Paula Porfírio, Chefe da assessoria de participação social e diversidade do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), reiterou a posição favorável do ministério tanto para o uso medicinal quanto industrial.
Porfírio também esclareceu a atuação do MAPA no processo regulatório: "Fomos solicitados a fazer duas manifestações, sobre sementes e mudas. Essas manifestações foram feitas. O MAPA fez a parte dele, sim".
Sobre a regulamentação do mercado veterinário, a representante do MAPA indicou ter um documento pronto, que apenas não foi assinado ainda por questões de agenda.
Olhando para as associações, Ana Paula anunciou também uma parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa): "A nossa missão é não deixar as associações desassistidas. A Embrapa vai acolher as associações".
No mesmo painel, Beatriz Marti Emygdio, Pesquisadora da Embrapa, abordou os desafios para a sustentabilidade da cadeia produtiva. Ela apontou a gestão de resíduos como um gargalo global: "A cada 10 quilos de flores de cannabis que são processadas nós temos 14 quilos de resíduos pós-extração".

"Esse material hoje é incinerado e é um material de extrema riqueza que poderia ser usado para o desenvolvimento, por exemplo, de bioinsumos", explicou.
Segundo Emygdio, o entrave é regulatório: "Pouquíssimas legislações do mundo permitem isso. Geralmente se faz a regulamentação do uso medicinal separado da regulamentação para fins industriais".
Entre outros desafios para o país, ela listou a profissionalização, controle de qualidade, escalabilidade e investimento em ciência. Beatriz destacou, no entanto, a base que o Brasil já possui para avançar. "Precisamos alinhar esses desafios com o desenvolvimento científico e tecnológico para que possamos ter autonomia com relação às tecnologias que vamos usar para a base dessas cadeias produtivas nacionais".
Crescimento e estabilização da cannabis no Brasil
O evento também apresentou um panorama detalhado do mercado, com dados da Close-Up International e da Kaya Mind.
Filipe Campos, da Close-Up International, mostrou que o número de médicos prescritores está crescendo e eles estão mais engajados. "Os médicos que prescrevem saem de 6,2 para 6,7 [prescrições por médico], um crescimento de 9,2%".
Neurologistas (28%) e psiquiatras (12,3%) lideram as prescrições, mas em números absolutos, os clínicos gerais são maioria, com quase 12 mil médicos prescritores.
Olhando para o número total de médicos, Campos observa um grande potencial de expansão: "Eu tenho um universo total aqui de 461 mil médicos que já prescreveram anticonvulsivantes. Lembrando que eu tenho 60 mil médicos que prescrevem canabidiol. Ou seja, tem um universo gigantesco aqui".
Lucas Goulart e Carol Bilatto, da Kaya Mind, focaram nos dados de importação via RDC 660. "Este ano a gente está com os dados fechados até setembro. E a projeção da Kaya é que a gente fecha o ano entre 180 e 185 mil pacientes, nesta via", disse Goulart.
O número total de pacientes com autorizações válidas nos últimos dois anos ultrapassa 320 mil. Os dados mostram uma capilaridade impressionante: 86% dos municípios no Brasil já tiveram pelo menos uma prescrição. Embora o mercado tenha 450 empresas atuantes, ele é concentrado: cerca de 30 empresas dominam 80% das importações.












