Cânhamo: versatilidade e sustentabilidade que abrem oportunidades para países em desenvolvimento
Relatório da ONU destaca que o mercado global da subespécie de cannabis pode atingir a marca de US$ 18,6 bilhões até 2027
Publicada em 31/07/2023

Por redação Sechat
O cânhamo, uma planta com um imenso potencial sustentável, está provando ser uma das melhores opções para diversas aplicações. Necessitando apenas de uma fração mínima de água em relação ao cultivo do algodão, por exemplo, a planta se destaca também por sua capacidade de absorver dióxido de carbono, superando outras culturas e a maioria das árvores.
Com uma história de milhares de anos, essa planta orgânica pode ser utilizada em diversos setores, incluindo alimentos, biocombustíveis, têxteis e materiais de construção.
De acordo com o relatório da UNCTAD, órgão intergovernamental permanente da Organização das Nações Unidas (ONU), a conscientização crescente sobre os benefícios do cânhamo está gerando oportunidades significativas. O mercado global pode atingir a marca de US$ 18,6 bilhões até 2027, quase quadruplicando o valor de 2020, conforme destacado no relatório.
Marco Fugazza, economista da UNCTAD e coautor do relatório, ressalta: "O crescente mercado de cânhamo oferece oportunidades econômicas significativas das quais todos os países podem aproveitar. Como produto renovável, as oportunidades são sustentáveis. Isso é extremamente importante, pois os países tentam impulsionar suas economias enquanto protegem o meio ambiente".
O relatório, intitulado "Commodities at a Glance: Special Issue on Industrial Hemp", destaca o potencial ainda inexplorado para o comércio internacional.
É preciso esclarecer a situação legal do cânhamo
Atualmente, a maioria dos produtos de cânhamo é comercializada localmente, ou seja, a produção ocorre nos países regulamentados e é consumida internamente. As exportações e importações globais somam apenas 42 milhões de dólares, o que oferece enormes oportunidades de crescimento.
O baixo número de transações internacionais se deve, em parte, ao fato de que as estatísticas oficiais cobrem apenas um conjunto limitado de produtos de cânhamo. Entretanto, outro motivo é o estigma associado a planta por ser parte da mesma família da cannabis.
Embora o cânhamo industrial não possua propriedades tóxicas, a falta de uma clara distinção legal torna-o uma planta controversa em muitos países. Nos Estados Unidos, por exemplo, a produção de cânhamo foi efetivamente proibida em 1937 pelo Marijuana Tax Act, só se tornando legal novamente em 2018.
Para minimizar os riscos e maximizar as oportunidades do cânhamo para países e produtores, o relatório destaca a necessidade de os governos esclarecerem seu status legal como um produto não tóxico.
Plantando sementes de desenvolvimento
O crescente mercado de cânhamo industrial também abre oportunidades econômicas para os países em desenvolvimento.
Devido à sua versatilidade e características funcionais, o cânhamo industrial tem um enorme potencial na agricultura, têxtil, reciclagem, setores automotivo, móveis, alimentos e bebidas, papel, materiais de construção e cuidados pessoais, conforme mencionado no relatório.
O cânhamo pode ser cultivado em uma ampla variedade de climas na maior parte do mundo e pode ser plantado em terras inadequadas para outras culturas, ajudando a reconstituir o solo ao remover metais pesados e outros contaminantes.
É benéfico incluí-lo na rotação de culturas, pois o cultivo de cânhamo aumenta o rendimento do trigo em 10% a 20%, como observado.
Além disso, o aproveitamento de todas as partes da planta, desde as raízes até as folhas, resulta em menos resíduos e poluição, comparado a outras culturas que possuem uma enorme pegada ecológica.
Por exemplo, na África, mais de 80% da massa total da planta do algodão é queimada ou descartada, contribuindo para a poluição do ar. Na Índia, a queima de campos de algodão para remover resíduos da colheita contribui para metade da poluição mortal de Delhi.
Ao explorar todas as partes da planta do cânhamo, os países em desenvolvimento podem construir cadeias de produção sustentáveis, promovendo o crescimento nas áreas rurais e impulsionando a diversificação econômica.
Ação X oportunidades
Para ajudar os países a colherem os benefícios econômicos e ambientais do cânhamo industrial, a UNCTAD recomenda as seguintes medidas:
1. Todos os países devem esclarecer o status legal do cânhamo em comparação com o da cannabis.
2. Os governos e a indústria devem compreender como a produção pode ser limitada por regulamentações em mercados de exportação em potencial.
3. Os países em desenvolvimento devem promover a cooperação regional para estabelecer cadeias de valor viáveis e sustentáveis para o cânhamo, baseadas em uma abordagem de planta inteira.
4. Na maioria dos casos, os países em desenvolvimento devem basear seus planos em uma rede local de agricultores e empresas que possam fornecer cânhamo bruto e serviços de primeiro processamento.
5. Os países devem definir e adotar padrões de qualidade para facilitar o acesso aos mercados internacionais e promover produtos de qualidade para os mercados nacionais.
De acordo com o relatório, devido à facilidade de cultivo e ao vasto potencial ambiental e econômico, “o cultivo industrial de cânhamo pode ser o caminho a seguir para o crescimento de cadeias de valor sustentáveis em mercados locais e regionais em muitos países em desenvolvimento”.