Cannabis e Alzheimer: pesquisa inovadora da UFU testa eficácia do CBD em moscas
Pesquisadores usam moscas transgênicas que recebem óleo de CBD por via oral. Resultados preliminares indicam efeitos positivos
Publicada em 20/12/2024
Imagem Ilustrativa: IA
A doutoranda em genética e bioquímica Serena Mares Malta, atualmente na Universidade de Saskatchewan, no Canadá, sob orientação de Carlos Ueira Vieira, professor do Instituto de Biotecnologia e do Laboratório de Genética da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em parceria com a empresa Mahara, investiga o uso do canabidiol (CBD) como terapia para o Alzheimer.
O modelo com moscas, utilizado na primeira etapa do estudo, é alternativo. Com o uso da planta, já se observa a redução dos sintomas da doença.
Em entrevista exclusiva para a Sechat, Carlos revelou que esse método de pesquisa com cannabis em drosófilas já foi aplicado em outros estudos estrangeiros.
Modelo alternativo em estudo inovador sobre Alzheimer
Na busca por novos tratamentos, o laboratório tem utilizado a mosca-das-frutas, ou Drosophila melanogaster, como modelo experimental. Em parceria com a empresa Mahara, que está fornecendo o óleo de CBD, os pesquisadores investigam como ele pode reduzir sintomas do Alzheimer.
O CBD, composto extraído da cannabis, é conhecido por suas propriedades terapêuticas e já é usado no tratamento de epilepsia, ansiedade e outros problemas de saúde, incluindo demências e o próprio Alzheimer, a demência mais comum. O óleo foi administrado às moscas por via oral.
Foi observada, no cérebro das drosófilas, uma redução da toxicidade do peptídeo beta-amiloide, considerado uma marca do Alzheimer. Essa redução melhorou a memória e as funções motoras do inseto.
Carlos citou três artigos científicos estrangeiros que também testaram cannabis em drosófilas. Esses estudos avaliaram a influência dos canabinoides na função cardíaca, no sistema nervoso e nas preferências alimentares dessas moscas.
Prática científica com ética e eficácia
O uso de moscas transgênicas reduz a dependência de testes em animais vertebrados, como camundongos, promovendo maior eficiência, economia e bem-estar animal. A abordagem combina eficiência científica e responsabilidade ética.
Carlos explicou que as moscas “têm um sistema endocanabinoide um pouco diferente do dos humanos”. O sistema endocanabinoide, comum em seres vertebrados, é responsável por diversas funções fisiológicas importantes no organismo humano.
Apesar da diferença, “alguns estudos mostram o efeito da cannabis ou do CBD em moscas”. O resultado são “efeitos semelhantes aos que acontecem em humanos”, ele esclarece.
Proibição da cannabis dificulta pesquisas sobre a planta
A proibição da cannabis dificulta a pesquisa sobre ela. Perguntado sobre isso, Carlos revelou que, “com certeza, um grande obstáculo é a parte jurídica”. Nesse desafio, a “parceria público-privada ajudou bastante”, segundo ele, complementando que “toda a parte jurídica foi realizada pela empresa Mahara”.
É a primeira vez que esse grupo de pesquisa trabalha com o CBD. O pesquisador disse que há intenção de testar outros canabinoides, caso consigam autorização.
Próximos passos da pesquisa
Os resultados promissores motivam a continuação dos estudos. A próxima etapa será com camundongos, com o objetivo de aprofundar os dados antes de avançar para testes em humanos.
A pesquisa da UFU destaca o potencial do CBD como alternativa terapêutica para o Alzheimer, abrindo caminho para soluções inovadoras. O estudo pode ajudar a melhorar a qualidade de vida de milhões de pessoas que sofrem com a doença.
Os pesquisadores esperam “contribuir com a sociedade ampliando o conhecimento científico sobre o tema”, expressa Carlos.
Ao menos 1,8 milhão de pessoas no Brasil têm Alzheimer
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que afeta a memória e a cognição. Descoberta em 1906 pelo neuropsiquiatra alemão Alois Alzheimer, essa condição atinge cerca de 1,8 milhão de pessoas no Brasil, segundo o Conselho Nacional de Saúde (CNS), com base em um estudo da psiquiatra e epidemiologista Cleusa Ferri e da pesquisadora e neuropsicóloga Laiss Bertola.
Estima-se que, até o final desta década, serão 2,78 milhões os brasileiros com Alzheimer e, até 2050, 5,5 milhões.
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