Descobertas reveladoras: cannabis no combate às doenças neurodegenerativas 

Pesquisa na Universidade Federal da Fronteira Sul destaca potencial terapêutico dos canabinoides THC e CBD no combate a doenças do sistema nervoso central

Publicada em 05/09/2023

Descobertas reveladoras: cannabis no combate às doenças neurodegenerativas 

Por redação Sechat com informações de UFFS

O campo da pesquisa médica não para de avançar, e um recente estudo conduzido na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) revelou descobertas significativas sobre o potencial terapêutico do óleo à base de Cannabis no tratamento de doenças neurodegenerativas.  

A pesquisa, que resultou na dissertação de mestrado da acadêmica Ana Paula Vanin, explorou os efeitos de diferentes concentrações dos canabinoides THC e CBD, presentes na planta Cannabis sativa, e suas aplicações no combate a essas enfermidades. 

Conduzida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental (PPGCTA), a pesquisa utilizou o nematódeo Caenorhabditis elegans como modelo experimental, devido à sua semelhança genética e molecular com o corpo humano. Os resultados revelaram que os óleos contendo os compostos da planta têm a capacidade de influenciar parâmetros comportamentais, biomarcadores do sistema colinérgico e a peroxidação lipídica. Mais notavelmente, o óleo com CBD demonstrou a capacidade de inibir a atividade da enzima acetilcolinesterase, fundamental para funções do sistema nervoso central. Por outro lado, o óleo rico em THC afetou biomarcadores em diferentes cepas do nematódeo. 

Nas duas imagens acima, análise dos nematoides em microscópio de fluorescência
(Imagem: reprodução)

A pesquisadora ressalta a relevância desses achados ao relacioná-los com doenças como o Alzheimer, caracterizada por uma deficiência de neurotransmissores que afetam a transmissão de estímulos nervosos entre neurônios. A acetilcolina, um neurotransmissor vital no cérebro humano, desempenha um papel fundamental em processos cognitivos, motores e de memória. A inibição da enzima acetilcolinesterase pelos óleos à base de cannabis resulta na preservação do neurotransmissor na fenda sináptica, melhorando assim os sintomas cognitivos, funcionais e comportamentais associados à doença. Isso fornece perspectivas valiosas sobre como os compostos derivados da Cannabis podem afetar sistemas neuroquímicos e processos relacionados a doenças neurodegenerativas. 

A pesquisa pode ser comparada a montar um quebra-cabeça complexo em que o CBD e o THC desempenham papéis essenciais. Essas "peças" podem influenciar diferentes partes do corpo, como o sistema colinérgico e outras áreas relacionadas ao cérebro, enviando mensagens cruciais e promovendo melhorias nos processos corporais.  

“Compreender esses caminhos de comunicação secretos oferece oportunidades para corrigir disfunções neurais”, dizem os pesquisadores. 

Ao elucidar os mecanismos subjacentes às melhorias observadas em doenças crônicas ligadas ao sistema nervoso central, como Alzheimer, a pesquisa fornece informações cruciais sobre como os compostos derivados da cannabis interagem com sistemas neurotransmissores específicos. 

Ana Paula destaca que: “Ao compreender como o CBD e o THC afetam sistemas como o colinérgico e outros relacionados ao sistema nervoso central, podemos identificar vias de sinalização molecular específicas e possíveis alvos terapêuticos envolvidos nas melhorias observadas”. 

No entanto, apesar dos avanços científicos, o uso medicinal da Cannabis ainda enfrenta obstáculos e desafios significativos. A falta de regulamentação em muitos estados brasileiros é uma das principais barreiras, embora alguns estados já tenham aprovado projetos e disponibilizem o medicamento via Sistema Único de Saúde (SUS).  

Além disso, a necessidade de médicos habilitados para prescrever medicamentos à base de Cannabis é um desafio, uma vez que o Conselho Federal de Medicina não fornece orientações claras sobre o assunto, levando alguns profissionais a hesitar em prescrever tais tratamentos. 

Outro grande desafio enfrentado é o preconceito enraizado em relação à cannabis, que muitas vezes é vista como uma droga ilícita em vez de um medicamento legítimo. No entanto, em suma, o estudo realizado na UFFS representa um passo significativo na compreensão do potencial terapêutico dos canabinoides presentes na Cannabis no tratamento de doenças