Cannabis pode ajudar no tratamento da periodontite, revela estudo da UFU

Pesquisa aponta potencial do canabidiol no combate a bactérias causadoras da inflamação crônica na gengiva

Publicada em 17/02/2025

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Imagem ilustrativa: Canva.

Um estudo do Laboratório de Ensaios Antimicrobianos da Universidade Federal de Uberlândia (Lea/UFU) revelou que o canabidiol (CBD), composto bioativo extraído da planta Cannabis sativa, apresenta potencial terapêutico para o tratamento da periodontite.

A doença inflamatória crônica afeta os tecidos de suporte dos dentes, podendo levar à sua perda. A pesquisa demonstrou que a substância pode combater as bactérias responsáveis pela condição, tornando-se uma alternativa menos agressiva em comparação aos tratamentos convencionais.

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Dra. Cynthia De Carlo é cirurgiã dentista prescritora de cannabis medicinal, palestrante internacional e colunista da Sechat.

A Dra. Cynthia De Carlo,

cirurgiã dentista prescritora de cannabis medicinal, palestrante internacional e colunista da Sechat considera que “os resultados são favoráveis e muito promissores”. 

 

“A pesquisa é muito bem-vinda e só tende a engrandecer a literatura brasileira, o que muito me orgulha”, ela elogia.

 


Estudo utilizou modelo biológico para avaliação da segurança

 


Os pesquisadores analisaram a segurança do uso do CBD por meio de testes na espécie Caenorhabditis elegans, um verme amplamente utilizado em estudos toxicológicos. Os resultados foram publicados na revista Journal of Applied Microbiology em janeiro de 2025, consolidando a relevância científica do estudo na área de microbiologia aplicada.

Para Anna Lívia Oliveira Santos, idealizadora da pesquisa, o impacto acadêmico e social do estudo é significativo. “Ele abre portas para novas pesquisas sobre o uso de produtos naturais no combate a bactérias resistentes, um problema crescente na medicina. Além disso, oferece uma opção terapêutica menos agressiva e ajuda a reduzir o preconceito em relação à Cannabis medicinal, especialmente no Brasil”, afirma Santos.

A Dra. Cynthia explicou à Sechat que “hoje, na prática clínica odontológica, para os casos de inflamação periodontal, nós utilizamos o tratamento sistêmico com óleos full spectrum e também produtos tópicos específicos, como dentifrícios, enxaguantes bucais e sprays bucais com canabinoides na composição”. 

A respeito desses produtos canábicos odontológicos, Cynthia diz que já existem “artigos comprovando sua eficácia, devido às propriedades antiinflamatórias, analgésicas e antimicrobianas dos canabinoides e dos terpenos presentes na planta cannabis”.

 

Desenvolvimento e metodologia da pesquisa

 

A pesquisa teve início em 2021 como projeto de Iniciação Científica (IC) de Santos, então graduanda em Biomedicina e atual mestranda em Imunologia e Parasitologia Aplicadas pela UFU. O interesse pelo tema surgiu durante a disciplina de Produtos Naturais, que abordava a Cannabis medicinal. Santos entrou em contato com o professor Carlos Henrique Gomes Martins, do Instituto de Ciências Biomédicas, para desenvolver o estudo.

O projeto incluiu uma revisão bibliográfica sobre doenças infecciosas bacterianas com foco naquelas resistentes a antibióticos. A investigação da atividade antibacteriana do CBD na periodontite iniciou-se no final de 2022, com a parte experimental concluída no início de 2024.

A equipe contou com a orientação de Martins e a participação das doutorandas Mariana Brentini Santiago e Nagela Bernadelli Sousa Silva, além da aluna de IC Sara Lemes de Souza. A pesquisa também teve colaboração do professor Joaquim Maurício Duarte Almeida, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), que forneceu o CBD utilizado nos experimentos.

“Trabalhamos com diversas técnicas microbiológicas para garantir a precisão e reprodutibilidade dos resultados. Apesar dos desafios experimentais, conseguimos avançar com o apoio da equipe e do orientador”, conclui Santos.

Para Cynthia, essa pesquisa “com certeza terá um grande impacto para a Odontologia”. Na visão dela, “pesquisas e estudos mostram o interesse por essa terapêutica e trazem a comprovação de outros estudos já realizados ou comprovam grandes novidades”.

O estudo reforça o potencial terapêutico da Cannabis medicinal e pode contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias no combate às doenças periodontais, ampliando as opções terapêuticas disponíveis no mercado.