Estudo busca melhorar processos de extração e controle de qualidade dos fitocanabinoides

Com o objetivo de aumentar a segurança e a experiência do paciente, a pesquisa pode contar com o apoio de associações, cultivadores e até laboratórios farmacêuticos

Publicada em 30/01/2024

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Estudante de química pela universidade Cruzeiro do Sul, Luiz Fernando Pimentel, identificou, ao analisar o mercado brasileiro de cannabis e as necessidades de seus pacientes, uma área “ainda pouco desenvolvida”. Por isso, em 2024, o morador de Goiás, decidiu realizar um estudo intitulado Avanços Tecnológicos na Extração e Garantia da Qualidade de Fitocanabinoide. Os trabalhos começam em fevereiro de 2024. 


Segundo Luiz, o cenário da maconha no Brasil, mesmo em vasta expansão, apresenta uma deficiência nos processos de extração e controle de qualidade de seus medicamentos à base da planta. Seu estudo, desenvolvido no último ano da graduação, tem como objetivo principal “qualificar ao máximo os agentes responsáveis pelos processos de plantio, extração e purificação de fitocanabinoides”, conforme trecho retirado do projeto. 


Como primeiro passo, em fevereiro, o estudante pretende realizar um diagnóstico da atual situação dos medicamentos consumidos pelos pacientes de cannabis. Para isso, Luiz tem como foco entrar em contato com as associações de Goiás, a fim de entender e coletar dados sobre a sua atuação e os processos de extração e controle de qualidade. 


Em paralelo às conversas com as associações, o graduando ainda busca reunir dados junto a paciente com Habeas Corpus para plantio e grupos farmacêuticos que produzem medicamentos à base da planta. Segundo o graduando, contatos com organizações de fora do estado não estão descartados. 


Associações e controle de qualidade 


Procuradas pela equipe do Porta Sechat, quatro associações de cannabis do estado de Goiás relataram sua atual situação quanto ao controle de qualidade dos seu produtos:


- Associação Goiana de Apoio e Pesquisa à Cannabis Medicinal (AGAPE): A associação conta com uma infraestrutura física voltada exclusivamente para a realização de todos os processos relacionados à manipulação do óleo de cannabis. O nosso Sistema de Garantia da Qualidade (SGQ) verifica a qualidade de todos os processos, não só durante a extração e confecção mas também durante o cultivo das plantas e etapas relacionadas. 


- Associação Regional de Terapia Canábica (Artcanab): Ainda não realizamos um processo de controle de qualidade. Estamos em construção de uma parceria para análise e qualificação da produção, temos conversa iniciada com uma docente da Universidade de Brasília (UnB).


- Associação Terapêutica SouCannabisHoje em dia, focamos nossos esforços no controle de qualidade dos produtos, realizando procedimentos e análises internas e externas. Nossa associação se preocupa com a precisão e consistência na composição do produto, deixando-o livre de qualquer tipo de contaminação e apto ao consumo.


- Associação Curando IvoNosso controle de qualidade é realizado pelo setor de farmácia, que mantém a análise dos fitocanabinoides em parceria com a Universidade estadual de Campinas (Unicamp). 

 

Vale lembrar que em Goiás (Goiânia e cidades próximas), o governo estadual sancionou recentemente a Lei nº21.940 que regulamenta a distribuição de forma gratuita de produtos à base de cannabis pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo o texto, a matéria prima seria concedida preferencialmente pelas associações sem fins lucrativos.


Avanços junto a universidades


Aprovado, no final de 2023 em um processo seletivo da Cruzeiro do Sul, Luiz vê com bons olhos a possibilidade de realizar parcerias com instituições públicas de pesquisa. Capazes de auxiliar na realização de ensaios de controle de qualidade, que exigem uma maior capacitação técnica. 


“Entre 106 projetos selecionados, pela Universidade Cruzeiro do Sul, 36 foram aprovados, entre eles está o meu, com cannabis. Essa aprovação me dá um respaldo, um aporte para seguir trabalhando, desenvolvendo meu projeto e os conhecimentos sobre a planta”. 


Próximos passos


Após entrar em contato com as associações e coletar todos os dados necessários, Luiz pretende realizar um relatório com recomendações de ações a serem implementadas e aperfeiçoadas, a fim de melhorar a extração e controle de qualidade dos produtos.


“No meio do ano irei enviar um relatório para as associações e os pacientes, com análises do plantio, extração, purificação e controle de qualidade dos fitocanabinoides. Acredito que qualificar estes processos é a melhor forma de auxiliar os pacientes”, relata o graduando. 


No final de 2024, um segundo relatório será desenvolvido, com informações cruciais para  direcionar o mestrado do estudante, que deve ter início em 2025. Nesta nova etapa, Luiz pretende continuar trabalhando com o controle de qualidade dos produtos à base da planta.