De planta sagrada a vilã: a estigmatização da cannabis ao longo da história
Como a maconha foi criminalizada e os fatores que contribuíram para a sua proibição
Publicada em 18/07/2024
Planta de cannabis | Imagem: Vecteezy
A história da cannabis é marcada por uma drástica mudança de percepção. Uma planta que já foi reverenciada por suas propriedades terapêuticas e utilidades industriais, acabou sendo criminalizada e estigmatizada. Entender essa transformação requer uma análise detalhada de fatores econômicos, raciais, religiosos e políticos, especialmente a influência dos Estados Unidos na política global de drogas.
A origem
Desde a antiguidade, a cannabis foi valorizada por suas inúmeras funções. Na China antiga, há cerca de 2700 anos a.C., a planta era usada para produzir tecidos, cordas e remédios. Séculos mais tarde, culturas na Índia a utilizavam em rituais religiosos e medicinais. Já por aqui, no início da colonização do Brasil em 1500, seu cultivo foi incentivado pela Coroa Portuguesa, reconhecendo suas inúmeras aplicações. Com o tempo, o uso da cannabis disseminou-se entre a população escravizada, que já conhecia suas propriedades da África, e posteriormente entre os indígenas, que adotaram a prática.
No final do século XIX, a cannabis era amplamente utilizada na medicina ocidental. Farmácias vendiam tinturas e extratos de derivados da planta para tratar uma variedade de condições, desde dor até insônia. Médicos prescreviam esses produtos, e seu uso era amplamente aceito.
A virada do século XX
Já no início do século XX, os Estados Unidos começaram a mudar sua postura em relação à cannabis. Em 1930, a criação do Federal Bureau of Narcotics, liderado por Harry Anslinger, marcou o início de uma campanha de desinformação contra a planta. Anslinger utilizou argumentos racistas e sensacionalistas para associar a cannabis a crimes violentos e comportamentos imorais, contribuindo para a sua demonização.
Os interesses econômicos também desempenharam um papel crucial nesta história. A indústria emergente de fibras sintéticas nos Estados Unidos via o cânhamo como uma ameaça. A campanha de Anslinger então, ajudou a eliminar essa concorrência. Em 1937, o Marihuana Tax Act foi promulgado, impondo restrições severas ao cultivo e à venda da planta, bem como seus derivados, efetivamente criminalizando aqueles que fossem pegos em posse dela.
A política de drogas dos Estados Unidos influenciou muitos outros países. No Brasil, a repressão ao uso da cannabis também teve raízes raciais. A planta era associada à população negra e marginalizada, que a utilizava devido ao seu baixo custo. A Lei do Pito do Pango de 1830, por exemplo, penalizava desproporcionalmente os negros escravizados por consumir cannabis, refletindo o preconceito racial da época.
A guerra às drogas e o auge da estigmatização
A Guerra às Drogas, lançada pelo presidente Richard Nixon em 1971, intensificou ainda mais sua estigmatização. Nixon utilizou a campanha para reforçar políticas conservadoras e reprimir movimentos sociais, associando o uso da planta a comunistas e subversivos. Essa guerra criou um legado duradouro de criminalização e desinformação.
Hoje, estamos testemunhando um renascimento no reconhecimento das propriedades medicinais da cannabis. Pesquisas científicas têm comprovado seus benefícios terapêuticos para diversas condições. Além disso, movimentos de descriminalização e legalização estão ganhando força globalmente, desafiando décadas de estigmatização.
A história de repressão à cannabis é um testemunho de como fatores sociais, políticos e econômicos podem moldar a percepção pública de uma planta. Para mais informações e uma visão detalhada sobre o tema, não deixe de baixar o 3º Guia Sechat da Cannabis no site www.sechat.com.br.