Estudo piloto aponta que CBD em alta concentração pode reduzir dor após extração dentária

Pesquisa americana sugere que canabidiol em dose mais alta pode oferecer alívio comparável a analgésicos tradicionais

Publicada em 09/12/2025

Estudo piloto aponta que CBD em alta concentração pode reduzir dor após extração dentária

Imagem: Canva Pro

Um estudo piloto conduzido nos Estados Unidos sugere que o canabidiol (CBD) em concentração elevada pode representar uma alternativa promissora para o manejo da dor aguda após extração dentária. A pesquisa, publicada em novembro de 2025 na revista Pharmaceuticals, avaliou a eficácia e segurança de duas concentrações de CBD oral comparadas ao placebo e à terapia padrão com ibuprofeno e acetaminofeno.

 

O Estudo SWAP

 

O ensaio clínico randomizado, denominado SWAP (Simple Tooth Extraction with Analgesic Phytocannabinoid), foi realizado no Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Tennessee (UTHSC), na Clínica Odontológica Dunn/Delta Dental. O estudo envolveu oito adultos submetidos a extração dentária simples. Os participantes foram divididos igualmente em quatro grupos: CBD a 17 mg/mL, CBD a 37 mg/mL, placebo e tratamento convencional (ibuprofeno/acetaminofeno).

Os grupos que receberam CBD ou placebo utilizaram 0,5 mL do produto a cada 4-6 horas conforme necessário, durante sete dias. O grupo de tratamento convencional seguiu o regime padrão de analgésicos não opioides.

 

Resultados Exploratórios

 

Embora o tamanho da amostra seja pequeno demais para conclusões definitivas, os pesquisadores observaram padrões descritivos interessantes. A concentração mais alta de CBD (37 mg/mL) produziu trajetórias de dor mais baixas e estáveis ao longo de 72 horas pós-extração, com resultados qualitativamente semelhantes aos do tratamento padrão.

Por outro lado, a concentração mais baixa (17 mg/mL) mostrou eficácia limitada, com escores de dor sobrepostos aos do placebo. Isso sugere a existência de um limiar de dose necessário para analgesia efetiva no contexto de dor dental aguda.

"O CBD em concentração mais alta pareceu produzir padrões de dor qualitativamente similares à terapia não opioide padrão", observam os autores, embora ressaltem que as descobertas devem ser interpretadas apenas como exploratórias.

 

Segurança e Adesão

 

Nenhum evento adverso grave foi registrado durante o estudo. Os efeitos colaterais relatados foram leves (como sonolência e boca seca), pouco frequentes e autolimitados. Nenhum participante descontinuou o tratamento devido a efeitos adversos.

A adesão ao protocolo foi elevada, com três dos quatro grupos atingindo mais de 75% de completude nas avaliações momentâneas ecológicas (EMA) - um método que captura a intensidade da dor em tempo real através de registros frequentes.

 

Contexto e Relevância Clínica

 

A extração dentária está entre os procedimentos cirúrgicos orais mais realizados globalmente, e a dor pós-operatória representa uma preocupação clínica significativa. Embora anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e acetaminofeno sejam geralmente eficazes, seu uso prolongado ou em altas doses pode estar associado a irritação gastrointestinal, úlcera péptica, hepatotoxicidade, comprometimento renal e riscos cardiovasculares. Além disso, alguns pacientes não toleram esses medicamentos ou não obtêm alívio adequado.

O CBD, um fitocanabinóide não psicoativo derivado da Cannabis sativa, tem atraído atenção por suas propriedades analgésicas e anti-inflamatórias. Diferentemente do THC, o CBD não produz efeitos psicoativos, o que o torna uma opção potencialmente mais aceitável para uso clínico.

Estudos laboratoriais in vitro demonstraram que fitocanabinoides, incluindo o CBD, podem reduzir prostaglandina E2 induzida por IL-1β e regular negativamente citocinas pró-inflamatórias (como IL-6 e IL-8) em fibroblastos gengivais humanos primários. Esses dados sugerem um mecanismo plausível pelo qual o CBD poderia atenuar a sinalização inflamatória, potencialmente limitando a permeabilidade vascular, edema e sensibilização de nociceptores após a extração.

 

Limitações e Perspectivas Futuras

 

Os pesquisadores reconhecem importantes limitações do estudo. Além do tamanho amostral extremamente reduzido (apenas oito participantes), houve desequilíbrios no nível de dor pré-cirúrgica entre os grupos, o braço de tratamento convencional não foi cego, e não foram incluídos biomarcadores objetivos.

Outro desafio identificado foi a preservação do cegamento: participantes conseguiram distinguir os óleos de CBD pelo sabor, com descrições variando de "horrível/óleo de peixe" a "mel" ou "toranja". Isso reforça a necessidade de desenvolver placebos com sabor correspondente em futuros estudos.

"Esses dados piloto justificam um ensaio randomizado com poder estatístico adequado, incorporando pelo menos duas doses de CBD, um placebo com sabor correspondente, avaliações de alta resolução da trajetória da dor e ensaios exploratórios de biomarcadores para esclarecer os mecanismos", concluem os autores.

 

Evidências Mistas na Literatura

 

Os resultados do SWAP alinham-se com algumas pesquisas anteriores, mas também destacam a heterogeneidade dos achados sobre canabinoides para dor dental e orofacial. Um ensaio clínico randomizado de fase IIa publicado em 2024 no Journal of Dental Research demonstrou que o CBD oral purificado reduziu a dor odontogênica em contexto de emergência, com efeitos mais fortes em doses maiores, apoiando uma relação dose-resposta.

Por outro lado, um estudo duplo-cego publicado em 2024 no Journal of Endodontics testando extrato rico em CBD em pacientes endodônticos não encontrou diferenças significativas na dor pós-operatória ou ansiedade dental comparado ao placebo. Benefícios mais consistentes têm sido observados em disfunções temporomandibulares, onde CBD tópico e intraoral reduziu significativamente a intensidade da dor e atividade muscular versus placebo em ensaios randomizados, e em úlceras aftosas recorrentes, onde CBD tópico a 0,1% acelerou a cicatrização.

 

Implicações Práticas

 

Apesar de preliminar, este estudo contribui para a base de evidências sobre alternativas não opioides para manejo da dor dental. Dado que o CBD está disponível sem prescrição em muitas jurisdições, ensaios rigorosamente desenhados são necessários para gerar recomendações baseadas em evidências.

A pesquisa original foi concebida antes da pandemia de COVID-19, que interrompeu o recrutamento após apenas 8 dos 120 participantes planejados terem sido incluídos. O protocolo inicial previa 120 participantes, e os autores enfatizam que um estudo de fase II adequadamente dimensionado é essencial para validar essas observações exploratórias.

 

 

Fonte: Abidi AH, Kassan M, Derefinko K. Oral Cannabidiol for Acute Post-Extraction Pain: A Randomized Pilot Study. Pharmaceuticals. 2025;18(12):1792.

Nota: Este estudo recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Tennessee (IRB# 20-07123-XP) e está registrado em ClinicalTrials.gov (NCT04271917). Os autores declaram não ter conflitos de interesse.