Estudo revela que terpenos são mais eficazes no controle da dor do que a morfina

Pesquisadores descobrem que os compostos presentes na cannabis podem ser alternativa promissora para tratamento da dor neuropática crônica

Publicada em 10/06/2024

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Um estudo recente financiado pelo governo federal dos EUA revelou que os terpenos da cannabis são tão eficazes quanto a morfina no alívio da dor neuropática crônica, mas com menos efeitos colaterais. A pesquisa, publicada na revista PAIN, da Associação Internacional para o Estudo da Dor, foi conduzida por uma equipe de 14 pesquisadores da Universidade do Arizona e do National Institutes of Health (NIH).

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O genoma de camundongos tem similaridade com o genoma humano, sendo por volta de 85% a semelhança. | Foto: Freepik
 

Os pesquisadores focaram em cinco terpenos encontrados em altos níveis na Cannabis sativa: alfa-humuleno, beta-cariofileno, beta-pineno, geraniol e linalol. As soluções de terpenos foram injetadas em camundongos para avaliar seu impacto na dor neuropática e inflamatória, induzida por drogas quimioterápicas e injeções nas patas traseiras dos animais.

Os compostos foram administrados em dosagens de 200 mg/kg e comparados com uma dose de 10 mg/kg de morfina. A pesquisa não apenas observou o comportamento dos camundongos, mas também analisou a função celular, congelando rapidamente a pele das patas e avaliando seu mRNA.

Os resultados indicaram que todos os terpenos testados reduziram significativamente os marcadores de dor neuropática. Exceto pelo beta-pineno, todos os outros também foram eficazes contra a dor inflamatória. Notavelmente, a combinação de doses menores de terpenos com morfina potencializou o efeito analgésico sem aumentar os efeitos colaterais negativos.

Ao contrário da morfina, nenhum dos terpenos estudados produziu uma resposta de recompensa significativa, sugerindo que eles podem ser analgésicos eficazes sem o risco de dependência. A pesquisa também destacou que os terpenos injetados tiveram impacto significativo na dor, enquanto a administração oral ou por vaporização mostrou pouca eficácia.

John Streicher, pesquisador principal e professor de farmacologia na Universidade do Arizona ressaltou, em nota, a importância das descobertas: “Os terpenos se mostraram muito eficazes no alívio de um tipo específico de dor crônica, com baixos e controláveis efeitos colaterais”. Ele também sugeriu que uma terapia combinada de terpenos e opioides poderia melhorar o alívio da dor e reduzir o potencial de dependência.

Apesar dos resultados promissores, os autores do estudo enfatizaram a necessidade de mais pesquisas para explorar a biodisponibilidade dos terpenos administrados por vias orais e inalatórias, e para entender melhor os mecanismos de ação antinociceptivos. Eles concluíram que a complexidade química da Cannabis sativa pode influenciar significativamente os efeitos biológicos de diferentes cepas.

A descoberta amplia o horizonte para novas terapias de controle da dor que utilizem os terpenos da planta, potencialmente oferecendo uma alternativa segura e eficaz aos opioides tradicionais.