Polêmica gera cancelamento de evento sobre cannabis em Campinas/SP 

Prefeitura alega "incitação ao consumo de entorpecentes"

Publicada em 13/09/2023

Polêmica gera cancelamento de evento sobre cannabis em Campinas/SP 

Por redação Sechat com informações de Correio Popular

No último sábado, dia 9 de setembro, Campinas presenciou uma controvérsia que envolveu o cancelamento da WE Expo, uma feira voltada para o uso medicinal da cannabis.  

O motivo por trás da decisão da Prefeitura em negar o alvará foi a alegada "incitação ao consumo de entorpecentes", após uma denúncia feita pelo vereador Nelson Hossri (PSD) ser acolhida. Esta denúncia levou ao envolvimento do Ministério Público, Polícia Militar e agentes da Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes de Campinas (Dise) no caso. 

A organização da WE Expo, por sua vez, nega veementemente as acusações e está em busca de uma nova data para a realização da feira. A Prefeitura argumentou que as divulgações do evento convidavam os participantes a "se prepararem para ver os mais inovadores produtos do mercado, os melhores cheiros e sabores", o que teria infringido uma jurisprudência criada por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). 

De acordo com essa jurisprudência, eventos desse tipo só seriam permitidos se não houvesse incentivo, estímulo ou consumo de entorpecentes, e se não houvesse a participação ativa de crianças ou adolescentes na sua realização. 

O evento estava programado para ocorrer em um espaço no distrito de Joaquim Egídio, com 40 stands para venda de produtos relacionados à cannabis, além de 10 mesas para debater o uso medicinal da planta. O vereador Nelson Hossri havia feito uma denúncia oficial à Prefeitura, Secretaria de Urbanismo, MP, Polícia Civil e Militar, alegando que a feira fazia apologia ao uso de drogas. Ele citou trechos da divulgação do evento, como a intenção de proporcionar "um dia único, no parque, livre de regras chatas e com uma estrutura impecável, nunca vista em eventos do segmento". 

A denúncia foi acolhida pela Prefeitura, que negou o alvará em agosto. Mesmo com a negativa, a organização da feira montou a estrutura, o que resultou na presença de equipes da Prefeitura, Polícia Militar, Guarda Municipal e Polícia Civil no local. No entanto, o delegado titular da Dise, Fernando Sanches, declarou que nenhum entorpecente foi encontrado no evento, e ninguém foi preso. 

Nas redes sociais, a página oficial do evento publicou uma nota repudiando o cancelamento e acusando o vereador que fez a denúncia de agir motivado por interesses políticos e econômicos. A organização argumentou que o evento foi vítima de um "flagrante abuso de autoridade" e que houve erro de interpretação nas ações de marketing que promoviam a feira. Eles esclareceram que o pé de maconha apontado por Hossri era uma representação feita de bambu, e os alimentos comercializados simulavam o aroma da cannabis por meio de terpenos, algo lícito no Brasil. 

A vereadora Paolla Miguel (PT), que planejava participar do evento para debater políticas públicas relacionadas à distribuição de medicamentos à base da cannabis, expressou sua decepção com o cancelamento. Ela argumentou que o episódio atrasa o debate sobre a pauta na cidade e priva pessoas com condições médicas específicas, como a esclerose múltipla, do acesso a informações relevantes.  

Paolla Miguel e outros envolvidos no evento estão em contato com os organizadores na esperança de encontrar uma solução para que a WE Expo possa acontecer no futuro e contribuir para o avanço das políticas públicas relacionadas à cannabis medicinal em Campinas.