Microbiota Intestinal e Cannabis: estudo revela impacto da interação para diversas patologias e efeitos

Interação gera benefícios antimicrobianos, no controle do peso e outras efeitos colaterais

Publicada em 03/01/2025

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Imagem: Canva Pro

As pesquisas sobre o uso medicinal da cannabis estão avançando rapidamente. Segundo o Anuário da Cannabis de 2024, nos últimos 10 anos foram publicados 1.710 estudos com a palavra cannabis e canabidiol no periódico PubMed. Uma pesquisa publicada no periódico MDPI explorou como a interação entre a cannabis e a microbiota intestinal pode ser eficaz na eficácia dos tratamentos e seus efeitos colaterais.
 

O que é a microbiota intestinal?

 

A microbiota intestinal consiste em trilhões de bactérias, vírus e fungos que habitam principalmente o intestino delgado e ajuda a manter o equilíbrio do organismo. Essas colônias são responsáveis ​​por funções essenciais, como a metabolização de nutrientes, a manutenção da mucosa intestinal, a modulação do sistema imunológico e a proteção contra patógenos. Por esse motivo, a microbiota é considerada por muitos especialistas como um “órgão” extra do corpo humano.

Diversas pesquisas apontaram que alterações na microbiota estão associadas a uma série de condições, como síndrome do intestino irritável, infecções recorrentes, diabetes tipo 2, doenças autoimunes e até transtornos comportamentais.

 

Como os canabinoides influenciam a microbiota intestinal

 

Um estudo analisado destacou que a microbiota intestinal tem a capacidade de metabolizar canabinoides, alterando sua biodisponibilidade e potência. No caso do tetrahidrocanabinol (THC), ele pode ser transformado em compostos mais potentes, como o 11-OH-THC, ou inativos, como o THC-COOH. Já o CBD é metabolizado em 7-hidroxi-CBD, gerando propriedades anti-inflamatórias.

Além disso, a microbiota pode influenciar a ativação dos receptores canabinoides CB1 e CB2, essenciais para os efeitos farmacológicos da cannabis, por meio da produção de ácidos biliares secundários. Alterações na composição da microbiota também podem impactar os níveis de endocanabinoides no corpo, influenciando diretamente a resposta ao tratamento com cannabis.

 

O potencial antimicrobiano do CBD

 

Pesquisas indicam que o CBD apresentou resultados positivos contra bactérias resistentes, como Staphylococcus aureus e Clostridioides difficile . O modo de ação primário do CBD parece ser a ruptura da membrana celular bacteriana, demonstrando seu potencial como um novo tipo de antibiótico, especialmente contra infecções resistentes.

 

Cannabis e doenças neurodegenerativa

 

Foi analisado o impacto da cannabis em modelos animais de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer. O CBD mostrou-se capaz de melhorar a função cognitiva, reduzir a neuroinflamação e promover uma barreira intestinal mais robusta, evitando o vazamento de metabólitos tóxicos.

 

Efeitos no coração e metabolismo

 

Outro ponto abordado foi a capacidade do canabidiol de atuar como cardioprotetor, alterando fatores de risco cardiovascular e modulando a microbiota intestinal. Em camundongos, o CBD foi capaz de aumentar a abundância de bactérias benéficas, reduzir a lesão associada à obesidade e melhorar a tolerância à glicose.

 

Microbiota intestinal e controle de peso

 

A pesquisa também destacou que a relação entre o consumo de cannabis e a microbiota pode impactar o controle do peso e da saúde metabólica. O THC, por exemplo, foi associado ao aumento de uma bactéria intestinal chamada Akkermansia muciniphila, que favorece a perda de peso e melhora a função de barreira intestinal.

Embora as evidências em estudos com animais, como ratos, sejam promissoras, mais pesquisas são permitidas para confirmar esses efeitos em humanos, conforme destacam os pesquisadores. A relação entre cannabis e microbiota intestinal abre novas possibilidades para o uso medicinal da planta e o desenvolvimento de terapias inovadoras.