Sommelière Priscilla Colares explica como a combinação de terpenos com a bebida está transformando o setor

Apesar dos desafios regulatórios, a mercado de cervejas de cannabis atrai novos consumidores no Brasil

Publicada em 21/08/2024

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Priscilla Colares | Imagem: Miguel Rivas

O mercado de cervejas de cannabis está emergindo com uma força significativa no cenário de bebidas terpenadas no Brasil, um segmento que, até então, era pouco explorado. Com os terpenos ganhando cada vez mais atenção por suas propriedades aromáticas e potenciais benefícios à saúde, a incorporação desses compostos em bebidas, como a cerveja, tem o potencial de revolucionar o mercado. No entanto, a regulamentação vigente ainda impõe desafios significativos para o pleno desenvolvimento desse setor.

Atualmente, a legislação brasileira em relação à cannabis permite o uso de determinados compostos para fins medicinais, mas as restrições quanto ao uso recreativo e em produtos alimentícios e bebidas ainda são rígidas. Isso significa que a produção e comercialização de cervejas contendo canabinoides, como CBD e THC, não é permitida. No entanto, algumas marcas têm encontrado brechas na regulamentação, optando por utilizar terpenos, compostos que não possuem efeitos psicoativos, mas que ainda assim oferecem um diferencial sensorial e aromático único.

Empresas inovadoras, como as nacionais Fumaçônica, Everbrew, Cervejaria Mito, Octopus e a Koala san Brew, primeira a utilizar terpenos em 2018, exploram essa área, desenvolvendo cervejas artesanais que utilizam terpenos para criar produtos que não apenas oferecem um sabor único, mas também aproveitam os potenciais benefícios para o bem-estar.

A especialista em cervejas Priscilla Colares, sommelière com ampla experiência, vê no setor uma tendência inovadora e promissora: "Em mercados internacionais, como nos Estados Unidos, já observamos um desenvolvimento mais avançado, com empresas que utilizam derivados do Hemp em bebidas alcoólicas e não alcoólicas. No entanto, por lá, o THC só pode ser adicionado a bebidas que não contenham álcool. Já no Brasil, a legalização parece continuar distante, portanto, as alternativas viáveis são os aromas naturais que se assemelham aos terpenos de variedades de cannabis, especialmente dentro do estilo IPA, onde o lúpulo é um dos principais protagonistas", explica.

 

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É importante destacar, segundo Priscilla, que o lúpulo (Humulus lupulus) e a cannabis (Cannabis sativa) pertencem à mesma família botânica, Cannabaceae, e compartilham diversas similaridades biológicas. | Imagem: Vecteezy

 

Quando questionada sobre uma possível concorrência entre as marcas terpenadas e as cervejas tradicionais, Priscilla afirma que: "Essas cervejas não competem diretamente, mas sim, acrescentam valor ao mercado, oferecendo uma nova experiência sensorial e conquistando consumidores que buscam novidades e experiências diferenciadas". Ela ressalta ainda, que as cervejas produzidas com terpenos têm um apelo significativo não apenas para os amantes de produtos artesanais, mas também para consumidores curiosos, atraídos pelos rótulos que geralmente fazem referência à planta de cannabis. "Esses produtos geralmente possuem um valor agregado elevado, tornando-os atraentes para um nicho de mercado 'premium'", conclui.

À medida que o interesse pelos terpenos cresce e a regulamentação, possivelmente, se adapta a novas realidades, o mercado de cervejas de cannabis pode se tornar um dos pilares do setor de bebidas terpenadas no Brasil, impulsionando tanto a inovação quanto o crescimento econômico.