O poder das mães
Estreando sua coluna no portal, a advogada Maria José Fagundes faz uma reflexão sobre a importância do papel das mães de pacientes de cannabis, mulheres essas que nunca deixam a vida em segundo plano
Publicada em 13/07/2022

Por Maria José Delgado Fagundes
O que você fez nos dias de quarentena se reflete no presente. Tenho pensado sobre isso e concluo que os exercícios de revisão de vida acabaram acontecendo para muitos. Felizes aqueles que conseguiram nestes dois anos profundos de mudança de hábitos, se conectar com essências e lapidar conteúdos existenciais para novas temporadas em sua jornada.
No meu caso, passados dois anos e um terço dessa experiência imposta pela Covid-19, quando todos ensaiamos nossos passos de retorno, vejo que na verdade não parei. Me movimentei de outra forma. É sobre esta dimensão humana que desejo esta partilha aqui na coluna.
Convido o leitor a fazer este exercício de revisão e organizar suas significâncias para que os dois anos loucos da pandemia não apareçam no seu gráfico de vida como colunas vazias. Creio que isso pode ser gratificante. Então te conto a minha experiência e te convido a fazer a sua revisão pandêmica. Quem você conheceu? O que você aprendeu? O que e quem você não pretende esquecer?
Nos períodos de isolamento senti o desejo de me conectar com histórias, as minhas próprias e as dos outros.
Nessa caminhada, entrevistei pessoas, cujas histórias me foram apresentadas de maneira diversa da sua trajetória profissional. Interagi com cientistas que fizeram muito pela humanidade, mas me voltei a conhecer também outros interatores do cotidiano que são igualmente relevantes por manifestar o ato do cuidado em seus universos particulares, que constelam para uma grande família a qual todos nos pertencemos, a grande família da sociedade humana.
As nossas revisões de vida acabam um pouco ligadas ao nosso repertório e trajetórias. E assim, nos dias de isolamento, relacionei-me parlamentares, com servidores públicos, pois fui servidora, atividade profissional dos meus pais, minhas pessoas incríveis que me ensinaram o valor e o respeito aos profissionais que servem ao povo e ao Estado brasileiro. Conversei com empresários(as), também com professores doutores, mestres e especialistas. Entrevistei médicos, profissionais de saúde e mães de filhos com dependência de cuidados permanentes.
Um grupo de interatores, em especial, transbordou em mim mais encantamento: as mães! Ah, esse ser que ninguém explica de onde tira força e luz. Algumas mães que entrevistei no período da pandemia, fizeram as entrevistas segurando seus filhos nos braços. Lidando com Doenças Raras e patologias de difícil controle, essas mulheres nos ensinam como combinam ciência, medicina e amor para vencer obstáculos, para driblar a doença, para harmonizar sentimentos, dores e não abandonarem o ato de sorrir e promover amor.
Na busca por qualquer alternativa que possa mudar o rumo das condições de saúde de seus filhos, além dos cuidados diários, elas pesquisam na internet, com os médicos parceiros, alguma solução para a condição de saúde diagnosticada. Em sua inquietude maternal vão tecendo redes de troca e fazendo novos caminhos para a busca da cura, do alívio da dor, da redução das convulsões. – Você já ouviu falar de tratamento com cannabis (medicinal?) O que é a jornada do paciente? Como eu posso aprender para melhorar a vida do meu filho? Na obstinada tarefa do amor, as mães não sabem o que é preconceito. Elas querem a vida e pela vida de seus filhos são estudantes, ouvintes, garimpeiras de saber, são brasileiras determinadas a defender a vida.
Espero poder compartilhar com vocês um pouco mais do que aprendi nos dias de isolamento, com as mães, porque as mães não têm limites para amar e ensinar a amar e a transformar.
Maria José Delgado Fagundes é CEO na MJDFagundesconsultoria, advogada, profissional na área de compliance, consultora especializada em saúde, sistemas regulatórios, setor farmacêutico e associações de suporte a pacientes.
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