Pesquisa recente sugere que o uso de cannabis pode prejudicar a memória
Estudo holandês revela suscetibilidade a falsas memórias em situações de alta tensão como interrogatórios
Publicada em 19/06/2024

Um estudo recente realizado na Holanda e publicado em fevereiro deste ano trouxe novos insights sobre os efeitos da cannabis na memória humana. De acordo com os pesquisadores, o uso da cannabis aumenta significativamente a suscetibilidade de uma pessoa a formar falsas memórias. Esses resultados têm implicações importantes para a aplicação da lei e para profissionais do direito que trabalham com testemunhas e suspeitos que possam estar sob a influência da cannabis.
Os cientistas explicam que a memória humana é inerentemente imperfeita, o que pode resultar na formação de memórias falsas – lembranças de eventos ou detalhes que não foram experimentados de fato. Essas falsas memórias podem ter consequências em processos judiciais, como levar a condenações injustas ou acusações infundadas. O estudo destaca que indivíduos sob o efeito da maconha são mais propensos a cometer “todos os tipos de erros de memória” e mostram maior sensibilidade a perguntas sugestivas durante interrogatórios.
Interessantemente, o estudo observou que esses efeitos desaparecem após uma semana, sugerindo que o melhor momento para interrogar pessoas intoxicadas é quando elas estão sóbrias, a fim de evitar o declínio da memória ao longo do tempo. "O ideal é que os interrogatórios sejam realizados assim que a pessoa estiver sóbria para evitar o declínio da memória ao longo do tempo", afirmam os pesquisadores.
Johannes Ramaekers, um dos autores do estudo e professor de psicofarmacologia na Universidade de Maastricht, explicou à CNN Health que um único cigarro de maconha pode dobrar o número de memórias falsas em um ambiente de realidade virtual, em comparação com aqueles que fumaram um placebo. A razão para isso, segundo o estudo, é que a maconha afeta os receptores canabinoides no hipocampo e no córtex cerebral. Esses efeitos incluem “flexibilidade nas associações, fragmentação do pensamento e maior propensão à distração”.
Além disso, Ramaekers destacou que há evidências de que “o uso crônico de cannabis pode produzir um declínio persistente nas funções cognitivas e de memória, mesmo após uma abstinência prolongada e ausência de THC no sangue”. Isso sugere que os efeitos negativos da maconha na memória podem se estender além do período imediato de intoxicação.
Em suma, o estudo holandês sublinha a importância de considerar os efeitos da cannabis na memória, especialmente em contextos legais e judiciais. Compreender como a maconha influencia a formação de memórias falsas pode ajudar a mitigar riscos de injustiças e melhorar práticas de interrogatório e coleta de testemunhos.