Pesquisa da UFV avalia uso de fibras de cânhamo para reforçar papel reciclado
Parceria com a startup Buds INC investiga propriedades físicas e químicas do material para ampliar a vida útil e resistência de produtos recicláveis
Publicada em 19/12/2025

Entre os principais atributos estudados pelos pesquisadores estão o comprimento da fibra e a sua elevada resistência mecânica. Imagem: Gustavo Baêsso
Um projeto de pesquisa desenvolvido pelo Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em parceria com a startup Buds INC, investiga as propriedades das fibras de cânhamo, para reforçar papel reciclado.
Presentes nos caules, galhos e raízes de plantas do gênero Cannabis, essas estruturas são o foco da iniciativa que busca compreender seu potencial tecnológico. Entre os principais atributos estudados pelos pesquisadores estão o comprimento da fibra e a sua elevada resistência mecânica.
Aplicação de fibras de cânhamo na indústria de papel
A partir da caracterização inicial, o projeto passou a avaliar o uso das fibras de cânhamo como elemento de reforço na produção de diferentes tipos de papel. A ênfase especial do estudo recai sobre a indústria de papéis reciclados.
Essa abordagem é necessária porque a fibra de celulose convencional possui um número finito de ciclos de reciclagem. A cada novo reaproveitamento, as fibras se tornam mais curtas e frágeis, o que resulta na perda progressiva da resistência mecânica do papel.
"É justamente nesse ponto que entra o material. A adição controlada de fibras de cânhamo à polpa reciclada permite recuperar a resistência original do papel", afirma Gustavo Baêsso, engenheiro florestal e pesquisador do projeto.
Segundo o especialista, os resultados podem superar as expectativas iniciais. "Em alguns casos, é possível alcançar propriedades mecânicas superiores às do material inicial, ampliando significativamente sua vida útil e desempenho", completa Baêsso.
Resultados promissores
Atualmente, o projeto encontra-se na fase final de consolidação dos resultados mecânicos dos papéis produzidos com diferentes teores de fibras de cânhamo. Os dados obtidos serão submetidos para publicação em periódicos científicos especializados.
A divulgação desses resultados visa contribuir para o avanço do conhecimento técnico na área de materiais fibrosos. Além disso, fortalece o setor de produtos florestais com dados científicos robustos.
Os pesquisadores destacam o grande potencial dessa inovação para o Brasil, um dos maiores produtores mundiais de papel e papelão reciclado. O uso de fibras de cânhamo como reforço representa não apenas ganhos técnicos e econômicos, mas um avanço importante em sustentabilidade.
A técnica aumenta a eficiência da reciclagem ao prolongar a vida útil do papel. Consequentemente, isso ajuda a reduzir a pressão sobre as matérias-primas florestais tradicionais, otimizando os recursos naturais disponíveis.
Inovações e patentes além das fibras de cânhamo
Também com a participação de Baêsso, a UFV desenvolveu a técnica de miniestaquia. Essa primeira grande inovação consiste em uma técnica de clonagem vegetal que garante alta taxa de enraizamento e reduz o ciclo de produção.
Em 2025, os pesquisadores realizaram visitas aos Estados Unidos com o objetivo de divulgar o projeto e as aplicações das fibras de cânhamo. "Ano que vem, o objetivo é continuar esse processo", explica o engenheiro.
O grupo também concluiu o depósito de patentes da técnica no país norte-americano, garantindo a propriedade intelectual da inovação. "Aguardamos apenas a documentação", finaliza Baêsso.


