República Tcheca amplia prescrição de cannabis medicinal à doenças crônicas
Desde 1º de abril, médicos checos estão autorizados a prescrever cannabis para dor crônica, marcando um avanço no acesso a terapias mais humanas e eficazes
Publicada em 08/04/2025

(Imagem: CanvaPro)
Quem sofre de dores crônicas sabe muito bem como é ter de conviver com essa presença, às vezes invisível, outra insistente. É um desafio constante, mas que agora, para pacientes da República Checa, pode ser um “alívio”, pois, desde 1º de abril, os médicos de clínica geral passaram a ter o direito de prescrever cannabis medicinal para pacientes com dor crônica resistente.
Até então, apenas cerca de 250 especialistas estavam habilitados a prescrever a cannabis como auxílio no tratamento, criando um funil estreito entre o sofrimento e o socorro. A mudança de regulamentação não só democratiza o acesso à planta como redireciona a bússola terapêutica: da morfina e do fentanil para a cannabis, menos invasiva, mais generosa em suas promessas de bem-estar.
“A cannabis é significativamente menos perigosa e não tem um efeito tão poderoso. Portanto, seria estranho se os clínicos gerais não pudessem prescrevê-la”, declarou Petr Šonka, presidente da Associação de Clínicos Gerais.
Um alívio que agora chega mais longe
Os primeiros a sentir os efeitos da mudança serão os pacientes com dor crônica que não respondem aos tratamentos tradicionais. Mas não só eles: menores de 18 anos com doenças oncológicas ou incuráveis também passam a ter acesso ao tratamento com cannabis, dentro do contexto dos cuidados paliativos.
Para outros quadros clínicos — como distúrbios neurológicos ou sintomas relacionados ao câncer — o caminho ainda depende da avaliação de especialistas. Mas a nova lei já permite que cada paciente receba até 180 gramas de flor seca por mês (ou o equivalente em extratos), com a possibilidade de uma prescrição válida por até três meses — um sopro de liberdade diante da burocracia que antes impunha retornos mensais.
O crescimento de uma escolha
A legalização da cannabis medicinal na República Checa não é recente, eles possuem autorização desde de 2013, mas só agora seus frutos se mostram mais maduros. Em 2023, quase 320 quilos foram distribuídos legalmente, frente aos tímidos menos de um quilo no primeiro ano. Ainda assim, o número de prescrições oficiais segue aquém da demanda: estima-se que cerca de 600 mil pessoas usam cannabis exclusivamente para fins medicinais, enquanto mais de um milhão recorreram à planta como automedicação no último ano.
A reforma, dizem seus defensores, é um passo firme na tentativa de corrigir esse descompasso entre necessidade e acesso.
Seguradoras, esperança e o que ainda falta
Desde 2020, os custos com cannabis medicinal têm sido parcialmente reembolsados pelo sistema de saúde checo. Em 2022, a Companhia Geral de Seguros de Saúde arcou com 17,2 milhões de coroas checas, beneficiando mais de 3 mil pacientes. O reembolso cobre até 90% do valor de até 30 gramas por mês, o que é um alívio, mas não total.
Ainda existem pedras no caminho. A exigência de especialistas para algumas doenças, o alto custo de tratamentos mais intensivos e o limite do reembolso são gargalos que ainda precisam de solução. O médico Pavel Kubů propôs a criação de centros especializados com financiamento público como um próximo passo rumo à equidade.
Quando o cuidado floresce
A decisão de ampliar o acesso à cannabis medicinal na República Checa não é apenas uma medida de saúde pública. É, também, um gesto de sensibilidade. Em um mundo onde o sofrimento muitas vezes se esconde atrás de prontuários, a escuta atenta às necessidades reais dos pacientes é um ato revolucionário.
Talvez, como em um campo de cânhamo balançando sob o vento, seja possível imaginar um futuro onde a medicina floresce não só na ciência, mas também na compaixão.