Mapeamento de evidências sobre cannabis medicinal: o que sabemos até agora?
Artigo de revisão apresenta uma análise detalhada da cannabis medicinal e relata bons resultados sobre o uso para dor crônica, insônia, convulsões, espasticidade e ansiedade
Publicada em 11/12/2024
Imagem: Canva Pro
Nos últimos 60 anos, a literatura científica sobre canabinoides e o sistema endocanabinoide (ECS) passou por um crescimento exponencial, refletindo o interesse crescente no potencial terapêutico da cannabis. De apenas 10 estudos em 1962 para 4.428 em 2022, o campo de pesquisa aumentou mais de 4.000%. Em 2024, estima-se que 11 novos estudos sejam publicados diariamente, sendo que mais da metade deles possui relevância clínica potencial.
Um artigo de revisão recente, publicado na revista Frontiers com o título "Mapeando o cenário terapêutico: um mapa de evidências abrangentes sobre a cannabis medicinal para resultados de saúde", oferece uma análise detalhada desse campo em rápida evolução.
Revisão das evidências sobre cannabis medicinal
Dois pesquisadores independentes revisaram 1.840 referências iniciais, das quais 279 foram selecionadas para análise detalhada. No final, 194 estudos foram incluídos na análise final. Os temas mais comuns nos estudos abordaram o distúrbio da dor, regulação do apetite, náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia, além da espasticidade muscular.
Dos referenciais iniciais, 278 resultados de tratamento analisados relataram efeitos "Positivos" ou "Potencialmente Positivos", com os resultados mais promissores específicos para condições como dor crônica, insônia, convulsões, espasticidade e ansiedade.
Qualidade das evidências e limitações
Entre as 67 investigações incluídas em revisões sistemáticas de alta qualidade, 42 foram consideradas "Positivas" ou "Potencialmente Positivas". As evidências reforçam o potencial da cannabis para tratar condições como epilepsia, esclerose múltipla e incontinência urinária. No entanto, os resultados foram inconclusivos para transtornos psicóticos e doenças reumáticas, e mostraram ausência de efeitos para depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
O estudo também destacou uma lacuna significativa no uso da cannabis no tratamento do câncer, apontando a ausência de pesquisas de alta qualidade nessa área. Essa falta de estudos sólidos é um dos principais desafios para a expansão do uso clínico da cannabis, especialmente em regiões sub-representadas, como a América Latina, segundo os pesquisadores.
Avanços e a necessidade de estudos robustos
O mapeamento de evidências foi desenvolvido por um painel de especialistas técnicos, incluindo bibliotecários, formuladores de políticas e pesquisadores, em colaboração entre o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME), unidade da Organização Pan-Americana da Saúde. Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), e o Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIN).
Embora os resultados gerais sejam promissores, a revisão destaca que a cannabis medicinal, mesmo amplamente solicitada por pacientes, ainda carece de evidências conclusivas em diversas áreas. Estudos clínicos de alta qualidade, com formulações padronizadas, são essenciais para orientar a prática clínica e a regulamentação de produtos à base de cannabis.